Revolta em região da Índia onde 22 crianças morreram envenenadas na escola

Os alimentos que chegam às escolas através do programa de refeições gratuitas não são inspeccionados. Em Bihar, tinham doses letais de pesticida.

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Na escolas indianas é distribuída uma refeição a meio do dia, para tentar evitar o abandono escolar Sam PANTHAKY/AFP

Os pais e os vizinhos das 22 crianças que morreram envenenadas em Bihar, um estado do norte da Índia, revoltaram-se contra as autoridades locais que enviaram para a escola alimentos com pesticida. O jornalista da BBC em Dharmasati Gandaman (distrito de Saran, Norte), o lugar da tragédia, relatou que os dirigentes locais foram perseguidos nas ruas pela multidão em fúria.

Quatro veículos blindados da polícia foram enviados para o local.

As crianças da escola de Gandman comeram arroz, batatas e feijões de soja na Refeição a Meio do Dia — o programa de refeições escolares gratuitas do Governo indiano — e adoeceram. A cozinheira — que comeu algum do arroz que deu às crianças e ficou indisposta — explicou a um representante do governo local, citado pela BBC, ter acreditado que estavam a usar uma nova marca de óleo e que tinha sido essa a razão da doença dos miúdos.

Afinal, os alimentos tinham quantidades letais de pesticida.

O programa foi iniciado para combater dois problemas sociais graves no país: a fome e a malnutrição infantil e combater o abandono escolar ou mesmo a não frequência da escola nas zonas rurais ou noutras comunidades mais pobres. Actualmente, 120 milhões de crianças têm uma refeição gratuita em 1,2 milhões de escolas.

O programa foi um sucesso num país onde metade das crianças é malnutrida. Além de alimentar os alunos, o programa ajudou a acabar com alguns estigmas, já que crianças de diversos meios sociais partilhavam esta refeição em conjunto, dizem os analistas económicos. Bihar é dos estados mais pobres e mais populosos da Índia.

A multidão, armada com bastões, cortou estradas e fechou a estação de comboios. Numa localidade próxima de Gandaman, Chhapra, um grupo de populares revoltados pelo que se passou na escola ateou fogo a um autocarro.

Os partidos políticos da oposição disseram que vão marcar uma greve de protesto.

"Quando as crianças foram examinadas, vimos que tinham as pupilas dilatadas e respiravam com muita dificuldade. São sinais de envenenamento com organofosfatos", disse o médico de Chhapra, KM Dubey. Os organofosfatos, explicou o clínico, citado pela BBC, são compostos usados como pesticidas. "É muito perigoso. Mesmo numa pequena quantidade é fatal para uma criança. Uma vez que chegaram aqui já em condição crítica, tudo indica que tenham ingerido uma grande quantidade nos alimentos que consumiram".

O ministro da educação de Bihar, PK Shahi, explicou que a cozinheira comentou com a professora responsável pelo programa de refeições que o novo óleo que estava a usar "tinha má cor e era estranho". O professor respondeu que o óleo era caseiro e "próprio para consumo" — foi comprado à mercearia do marido desta professora.

O ministro disse que o marido da professora, Shahi, fugiu, assim como outros familiares, e anunciou que o governo estadual vai pagar cerca de três mil euros de indemnização às famílias das crianças mortas.

O ministro confirmou ainda que grande parte dos alimentos que o governo local compra para as refeições escolares não são inspeccionados antes de serem cozinhados e servidos às crianças. "Com a escala desta operação, que serve 20 milhões de crianças todos os dias, em zonas remotas, inspeccionar os alimentos é um grande desafio", disse o ministro.

O chefe do governo de Bihar, Nitish Kumar, ordenou uma investigação para esclarecer o sucedido. Segundo a agência IANS, a corrupção no sector da distribuição de alimentos gratuitos nas escolas é generalizada e os controlos de qualidade muitas vezes ignorados. Em várias ocasiões, alunos de Bihar denunciaram que encontraram nos seus pratos insectos, rãs, lagartos e ratos.

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