O espectáculo de Berlusconi, ao vivo, a cores e aos gritos

O antigo primeiro-ministro continua em forma. Foi à boca do lobo, ao programa de um jornalista que obrigou a deixar a televisão pública, e levou o apresentador ao desespero.

Silvio Berlusconi está mais velho e menos poderoso. Continua a ser milionário, um dos mais ricos de Itália, mas perdeu apoios políticos e enfrenta dificuldades para se candidatar às eleições legislativas de 24 de Fevereiro e as sondagens não dão mais de 25% à sua coligação com a Liga Norte. Certo é que continua em forma e fiel à estratégia de "quanto mais exposição melhor".

Na quinta-feira à noite entrou na boca do lobo, aparecendo no canal La7 (a única televisão privada que não é sua) no programa do inimigo Michele Santoro — jornalista que afastou da televisão pública por causa das críticas que lhe fazia. Foi o “one man show” a que durante anos os italianos se habituaram.

“Mentiu (como sempre), prometeu (como sempre), disse tudo e o seu contrário (como sempre), denunciou os ‘comunistas’ (como sempre). Há 20 anos que pratica esta arte, não se ia privar de o fazer mais uma vez. Santoro pareceu ofendido, como se esperasse sinceramente uma admissão de culpa, uma contrição, um milagre”, escreveu o correspondente do Le Monde, Philippe Ridet.

O momento mais descontrolado das três horas que o programa dura – e aquele em que Berlusconi “arrumou” com Santoro, segundo vários colunistas – seguiu-se à participação de Marco Travaglio, que surgiu para enumerar as ligações do ex-primeiro-ministro com figuras ligadas à máfia e suspeitas (ou condenadas) por vários crimes.

Berlusconi decidiu responder com a leitura das condenações por difamação que o próprio Travaglio acumula (início deste excerto), levando Santoro ao desespero.

“Chega, chega!”, “Isto é uma coisa vergonhosa”, gritou o apresentador. “Ele é um difamador de profissão”, respondeu Berlusconi. “Mas um condenado por difamação é um difamador profissional?”, pergunta Santoro. Entre aplausos e apupos, Berlusconi levanta-se para limpar a cadeira. “Isto não estava nos nossos acordos. Tínhamos dito que não iríamos falar de condenações”, continua Santoro. “Mas ele não entrou no mérito dos processos?”, retorque Berlusconi.

“Mas em que é que Santoro achava que estava a receber? O padre Pio?”, questiona-se Philippe Ridet.

Travaglio é outro dos inimigos de estimação de Berlusconi. O jornalista que assinou (com Peter Gomez) um panfleto sobre Berlusconi distribuído a todos os parlamentares europeus no arranque da presidência italiana da UE, em 2003, defende que este só entrou na política para se salvar da falência e de condenações judiciais.

No pequeno livro já com dez anos enumeram-se os processos que Berlusconi já tinha enfrentado: 15 (continuam a contar). Acusações variadas: falso testemunho, corrupção, financiamento ilícito de partidos, fraude fiscal, cumplicidade em massacre, cumplicidade externa em associação com a máfia, prostituição de menores e abuso de poder... Condenações após recurso: 0.

A última edição de Servizio Pubblico bateu recordes de audiências, com quase 9 milhões de espectadores e 33,5% de share, e foi Berlusconi quem levou a melhor.

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