Crise na aviação precipita despedimentos em todo o mundo

Companhias de vários pontos do globo estão a avançar com reestruturações que vão deixar milhares de pessoas sem emprego e que estão a gerar fortes protestos.

Foto
Sindicatos tinham convocado nova ronda de greves para 18 a 22 de Março AFP PHOTO/PIERRE PHILIPPE MARCOU

Europa, América, África e até Austrália. A crise no sector da aviação está a causar estragos um pouco por todo o mundo, fruto das reestruturações que muitas companhias desencadearam para fazer face aos problemas financeiros que enfrentam e que estão a gerar indignação.

Esta quinta-feira soube-se que os sindicatos da Iberia convocaram seis dias de greve contra as medidas anunciadas pela transportadora espanhola, que faz parte do gigante europeu da aviação IAG, em conjunto com a British Airways.

A empresa, que registou prejuízos recorde de 262 milhões de euros até Setembro, quer inverter os resultados negativos. E, por isso, concebeu um plano de regresso aos lucros que vai resultar no despedimento de 4500 pessoas, na sequência de um corte de 15% na operação para eliminar as rotas que não são rentáveis.

Os trabalhadores da Iberia, que têm feito sucessivos protestos desde o início deste ano, vão parar nos dias 14, 17, 18, 19, 20 e 21 de Dezembro. Uma época de pico para as companhias de aviação por causa da proximidade do Natal.

Ao lado, em França, também há ecos de reestruturações no gigante Air France, que se fundiu com a KLM em 2004. A empresa anunciou que planeia cortar 5000 postos de trabalho ainda este ano, o que corresponde a cerca de 10% da sua estrutura de pessoal. A decisão provocou fortes protestos no final de Outubro, durante uma greve de dois dias marcada pelo sindicato do sector.

Esta medida faz parte do plano Transform 2015, que a transportadora desenvolveu depois de ter apresentado perdas de 809 milhões de euros em 2011. Este ano, a situação não apresenta grandes melhorias, fruto da despesa com combustível. Até Abril, a Air France registava prejuízos de 368 milhões.

Escapar à falência

No entanto, e tal como tem vindo a acontecer nos últimos anos, nem todas as companhias de aviação têm conseguido responder a tempo à instabilidade que a indústria atravessa. Foi o que aconteceu, em Fevereiro, com a húngara Malév, que se viu obrigada a abrir falência.

Este desfecho está relacionado com o facto de a Comissão Europeia ter decidido obrigar a empresa a devolver 350 milhões de euros que tinha recebido do Estado, em forma de subsídio, porque as ajudas públicas são proibidas na União Europeia. Com o fecho da transportadora, mais de duas mil pessoas perderam o emprego.

A escandinava SAS luta, neste momento, para não ter o mesmo destino. Detida pelos Estados da Suécia, Noruega e Dinamarca, a transportadora pretende cortar em 40% a sua força de trabalho, através de despedimentos e da venda de participadas, como é o caso do negócio do handling.

Este ano, a companhia já tinha avançado com cerca de 300 despedimentos. A reestruturação da empresa vai passar também por cortes salariais. A administração, por exemplo, terá uma redução de 30% nos vencimentos.  

Nos Estados Unidos, os aeroportos também têm sido afectados por paralisações dos trabalhadores da American Airlines, que está igualmente a avançar com despedimentos. Recentemente, soube-se que a companhia fez chegar a 11 mil pessoas cartas de notificação de layoff [suspensão temporária do contrato de trabalho].

Na sequência da polémica, a transportadora norte-americana, que abriu falência ao abrigo do Capítulo 11 no ano passado, veio garantir que iria apenas eliminar 4400 postos de trabalho para fazer face aos prejuízos que acumula (252 milhões de dólares até Setembro).

A australiana Qantas Airways também não está a conseguir escapar à crise que se instalou na indústria, tendo anunciado que vai cortar mais 400 lugares na área da manutenção de aviões, depois de este ano já ter dispensado cerca de mil pessoas. E, em África, a Kenya Airways (detida em 27% pela Air France-KLM) anunciou que vai fazer 600 rescisões voluntárias.

Em Portugal, e apesar das reduções selectivas de pessoal que têm vindo a ser feitas pela TAP e pela SATA, não há ainda reestruturações deste calibre em curso. No entanto, têm-se sucedido greves por causa das medidas de austeridade aplicadas aos trabalhadores destas duas empresas públicas, como a manutenção dos cortes salariais que começaram em 2011.

Europa mais afectada

A crise na indústria tem tido maior expressão na Europa, que anda em contraciclo com as restantes regiões do globo. A Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) reviu recentemente em alta as previsões que tinha feito para o sector para este ano, estimando ganhos de 3,1 mil milhões.

Apesar da revisão em alta, o valor ficará abaixo do lucro alcançado em 2011: 6,5 mil milhões de euros. E a melhoria nas estimativas não foi transversal a todas as partes do mundo. Na Europa, por exemplo, tinha sido previsto um prejuízo de 850 milhões de euros em Junho que agora se agravou para 930 milhões, sendo o mais elevado de todas as regiões analisadas.

Pelo contrário, a América do Norte sofrerá, de acordo com a IATA, o maior aumento, ao passar de previsões de lucro de 1,1 mil milhões de euros para 1,5 mil milhões de euros. Será, porém, na região da Ásia-Pacífico que se registará os melhores resultados este ano: face às estimativas de Junho, a subida foi de 233 milhões de euros para um lucro total de 1,8 mil milhões de euros.
 
 

Sugerir correcção
Comentar