Cameron quer saber se houve elo "tory" em rede de pedofilia

O primeiro-ministro britânico pediu uma revisão dos resultados de uma investigação sobre abuso de crianças à guarda do Estado no País de Gales, que foi terminada em 2000. David Cameron anunciou esta decisão depois de uma das vítimas desses abusos ter dito à BBC que, quando era criança, tinha sido violada repetidamente por uma figura importante do Partido Conservador e que o relatório ignorou deliberadamente os abusos cometidos por pessoas exteriores ao sistema de Segurança Social galês.

As declarações de Steve Messham ao programa "Newsnight "da BBC inflamaram ainda mais um país que está a tentar ajustar contas com um passado em que a pedofilia era tolerada ou nem sequer era levada a sério.

Ele foi uma das testemunhas no inquérito liderado pelo juiz Ronald Waterhouse sobre acusações de abusos a menores em 40 instituições estatais, entre 1974 e 1990, que começaram a vir a público em 1994. O relatório chamava-se "Lost in Care", foi publicado em 2000, ouviu mais de 650 pessoas, assinalava 28 abusadores e falava em cerca de 200 potenciais abusadores — mas sem revelar as suas identidades.

No entanto, o relatório cingia-se sempre a pessoas dentro do contexto das instituições de Segurança Social ou escolares. “Não compreendo por que é que o inquérito deixou de fora uns 30% dos abusadores”, disse Messham ao programa "Newsnight". “Basicamente foi o que me disseram para fazer. Disseram-me para não entrar em detalhes sobre esta gente, que não podia dizer o nome deles, que não me iam fazer perguntas sobre eles.”

Quando os levavam para fora do Bryn Estyn, um lar para rapazes, tudo podia acontecer, contou Messham. “Em casa, eram abusos normais, violentos e sexuais. Lá fora, era como se fôssemos vendidos. Levavam-nos para o Hotel Crest, em Wrexham, sobretudo nos domingos à noite”, conta. Entre os seus abusadores, identificou um político tory, que diz ter tentado denunciar à polícia por duas vezes — mas a polícia não acreditou nele.

Desta vez, num clima social e político bastante diferente, David Cameron garante estar a prestar muita atenção. “Vou pedir a uma figura independente importante para liderar uma investigação urgente sobre se o inquérito original terá sido bem conduzido e reportar ao Governo”, disse o primeiro-ministro. O secretário de Gales do Governo Cameron, David Jones, irá também encontrar-se em breve com Messham.

No outro caso de pedofilia que já há um mês está a abalar as consciências britânicas, o do antigo apresentador da BBC Jimmy Savile (falecido no ano passado, aos 84 anos), já há pelo menos 43 processos de vítimas que buscam uma indemnização. Os gestores da herança da ex-estrela da televisão pública britânica, a BBC e cinco outras instituições reconheceram ter sido notificadas por advogados que representam vítimas. A polícia suspeita de que existam pelo menos 300 vítimas do apresentador, que teve amplo acesso a menores durante a sua carreira de quatro décadas.

Um dos processos é apresentado por uma mulher que tinha apenas oito anos quando terá sido abusada por Savile, enquanto estava no hospital Stoke Mandeville, a recuperar de uma cirurgia — é a mais jovem das mulheres que se revelou como vítima do apresentador. A herança de Savile, avaliada em 4,3 milhões de libras (5,3 milhões de euros), foi congelada, na expectativa dos processos que possam surgir.

Por outro lado, a BBC confirmou que 20 funcionários actuais da estação estão a ser alvo de uma investigação interna por denúncias de abusos sexuais.

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