Três agências da ONU pedem combate à subida dos preços dos alimentos
As três agências das Nações Unidas que lidam com questões alimentares pediram hoje acção urgente das autoridades internacionais para fazer baixar os preços do milho, do trigo e da soja, evitando que a sua subida se transforme numa catástrofe que afectará dezenas de milhões de pessoas nos próximos meses.
Os três responsáveis máximos da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), do IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola) e do PAM (Programa Alimentar Mundial), com sede em Roma, identificam dois problemas que devem ser enfrentados: a questão imediata da forte subida de alguns preços agrícolas e a questão, de longo prazo, sobre o modo como se processa a produção, o comércio e o consumo de alimentos, num contexto de crescimento da população e da procura e de alterações climáticas, lê-se no comunicado disponibilizado no site da FAO.
A actual subida de preços “pode ter um pesado impacto sobre os países dependentes da importação de alimentos e sobre as pessoas mais pobres”, e existem receios de uma crise alimentar mundial desencadeada devido à subida de preços semelhante à de 2007-2008, que pode ser evitada por uma “rápida acção internacional coordenada”.
Na sua declaração conjunta, José Graziano da Silva (FAO), Kanayo F. Nwanze (IFAD) e Ertharin Cousin (PAM) consideram que a alimentação mundial é vulnerável “até nos anos bons”, porque a produção global de cereais “dificilmente é suficiente para satisfazer a procura crescente de alimentos, rações e combustíveis”, num mundo onde há cerca de “mais 80 milhões de bocas a alimentar todos os anos”. E “estamos em risco porque apenas uma mão-cheia de nações são grandes produtoras de produtos alimentares básicos, e quando elas são afectadas toda a gente é”.
Assim, pedem que se promova a produção sustentável de alimentos nos países portes importadores de comida, muitos deles com um “enorme potencial para melhorar a produção”, e que se diminua a perda e desperdício de alimentos, que atinge cerca de um terço da produção, “devido a danos, desperdício ou outras causas”. E também que se “invista mais na agricultura e na protecção social, incluindo em programas que ajudem as pessoas pobres a ter acesso a comida que se tornou incomportável nos seus mercados locais”.
Por fim, estas três agências da ONU pretendem que sejam revistas e ajustadas as políticas actualmente em vigor que encorajam o uso não alimentar dos cereais, por exemplo ajustando os apoios aos biocombustíveis quando os mercados globais estiverem sob pressão e o abastecimento de alimentos estiver em risco – o que aliás já foi recomendado por várias organizações internacionais, como a FAO, o PAM, o FMI, a OCDE, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio, e que ainda hoje não foi atendido.