Psicopatas do pântano voltam a fazer história

Foto
Ian Brady e Myra Hindley, os psicopatas do pântano, em 1966 AP

Ian Brady e Myra Hindley – os "psicopatas do pântano", nome pelo qual ficaram conhecidos – foram responsáveis pelo assassinato de cinco adolescentes nos anos 1960, crime que chocou o Reino Unido. A mãe de uma das vítimas morreu neste sábado, ao início da madrugada, sem saber onde o filho está enterrado. É o único corpo que nunca foi encontrado.

Nem Brady nem Hindley, que morreu em 2002, com 60 anos, revelaram onde se encontra o corpo de Keith Bennett, apesar dos repetidos apelos da mãe da vítima, Winnie Johnson, cujo derradeiro desejo era enterrar o filho com dignidade. Quando a resposta parecia estar prestes a aparecer, no entanto, Winnie Johnson acabou por morrer, na sequência de uma "doença prolongada" não especificada.

A resposta para o dilema desta mãe parecia estar a dada porque, nesta sexta-feira, a polícia britânica deteve a advogada de Ian Brady, por suspeita de estar a impedir o enterro legal do corpo de Keith. Jackie Powell tem sido a advogada responsável pela defesa do psicopata nos últimos 13 anos.

Aparentemente, Powell afirmou num documentário do Channel 4 sobre o caso que o psicopata lhe deu um envelope lacrado para entregar a Winnie Johnson, no caso de ele falecer. Suspeita-se que, nesse envelope, se encontra a localização do corpo do rapaz de 12 anos.

Numa entrevista ao jornal The Guardian, o produtor do documentário, revelou que Powell lhe tinha dito que as suas obrigações eram para com Brady. “Fiquei realmente chocado, mas se ela trabalhou de forma tão próxima com ele [Brady], durante tanto tempo, talvez se sinta obrigada a ser-lhe leal”, sublinhou Paddy Wivell.

O que não impediu a produtora de, no final do mês de Julho, informar a polícia sobre a revelação em on feita pela advogada. A denúncia deve ter estado na base da sua captura, uma vez que as autoridades britânicas confirmaram ter recebido informações de que Brady havia revelado a localização do corpo a um dos seus visitantes de “longo prazo”, no hospital psiquiátrico de Ashworth.

O baú de recordações do Reino Unido foi aberto e esta história com 46 anos pode, apesar do seu mais recente episódio dramático – a morte de uma mãe na ignorância sobre o exacto paradeiro do corpo do filho –, estar prestes a ter uma resolução. No entanto, é preciso lembrar um dos momentos mais negros.

Passados 46 anos

A 12 de Julho de 1963, Pauline Reade, de 16 anos, desapareceu a caminho de uma discoteca. No mesmo ano, a 23 de Novembro, o jovem de 12 anos John Kilbride foi raptado, violado e depois assassinado.

No ano seguinte, a 16 de Junho, apanharam Keith Bennet depois de este ter feito uma visita à sua avó. Em Dezembro, Lesley Downey foi atraído para fora de uma feira de diversões e depois foi morto. Por último, a 6 de Outubro de 1965, mataram Edward Evans, com 17 anos. Todos foram “parar” ao pântano de Saddleworth, nos arredores de Manchester, em Inglaterra.

Ao fim de dois anos, "psicopatas do pântano" foram capturados e julgados, mas as motivações para os seus crimes nunca foram acertadas em tribunal. Ainda assim, Brady e Hindley foram sentenciados a prisão perpétua pela morte de cinco adolescentes, nos arredores de Manchester, depois de a acusação ter conseguido provar a responsabilidade da dupla em três dos cinco assassínios. A sentença foi lida a 6 de Maio de 1966, sem terem revelado a localização dos dois corpos desaparecidos.

Foram necessários 21 anos de encarceramento para obter uma confissão da morte de Keith e Pauline. Brady e Hindley foram mesmo levados até ao pântano de Saddleworth – local onde escondiam as vítimas – para ajudarem a polícia a encontrar os restos mortais das vítimas. Porém, só o corpo de Pauline foi encontrado.

Myra Hindley, morreu na cadeia aos 60 anos, a 15 de Novembro de 2002, nunca causando qualquer tumulto. A prisão quebrou-lhe o “espírito”.

Quanto a Bradley, foi transferido em Novembro de 1985 de uma prisão de alta segurança para o hospital psiquiátrico de Ashworth Maghull, em Merseyside, após ter sido diagnosticado como psicopata. Mas esta mudança não o satisfez. Desde então, tem desafiado as autoridades através de uma longa saga de “manifestações”, cujo intento é ser-lhe concedida autorização para morrer. Em 1999, começou uma greve de fome que se mantém até hoje. É desde então alimentado por um tubo, contra a sua vontade, todos os dias, sete dias por semana.

Aos 74 anos – 46 anos passados em regime de clausura – sofre de vários problemas de saúde. É um fumador compulsivo e também sofre de uma doença degenerativa na coluna vertebral.

Em Julho passado, ele ia participar numa audiência em tribunal, a pedir que fosse declarado “são” mentalmente, de modo a que fosse transferido para uma prisão escocesa – local onde poderia tentar morrer de fome. Por estar diagnosticado como psicopata, ao abrigo das leis britânicas, não está autorizado a acabar com a própria vida.

Porém, não chegou a ir a tribunal. Teve um ataque cardíaco enquanto falava com o seu advogado e teve de ser transferido para um hospital para ser tratado. Se tivesse aparecido no tribunal, seria a primeira vez que Brady teria sido visto em público desde 1966.

O juiz Robert Atherton – responsável pelo processo – adiou a sessão para uma data não especificada. O mesmo juiz já se assumiu, noutras ocasiões, apoiante da campanha de eutanásia voluntária para doentes do Reino Unido.

O psicopata nunca expressou qualquer arrependimento pelos seus crimes ou empatia pelas vítimas. Os psiquiatras que o avaliaram concluíram que tem grande necessidade de controlo – evidente na constante recusa a revelar a localização dos restos mortais de Keith Bennett. Já em Março de 2000, um juiz descreveu a sua greve de fome, como parte da sua "obsessiva necessidade de exercer controlo".

Este caso tinha sido falado pela última vez há mais de dois anos, particularmente a 27 de Março de 2010, quando uma entidade privada decidiu ajudar Winnie Johnson – a mãe de Keith Bennet –, então com 76 anos, a encontrar o corpo do seu filho antes de ela morrer, financiando a procura e investigação.

Notícia corrigida e actualizada às 12h56

: acrescenta informação sobre a morte de Winnie Johnson

Sugerir correcção
Comentar