Autarcas consideram fecho do ramal de Cáceres um “retrocesso” na relação Portugal-Espanha

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O grupo pede investimento em infra-estruturas Público

Autarcas de Portugal e de Espanha afirmaram-se hoje contra o encerramento do ramal de Cáceres à exploração ferroviária, considerando a medida uma “machadada no interior” e um “retrocesso” na relação entre os dois países.

Em declarações à Lusa, o alcalde do Ayuntamiento de Valência de Alcântara (Espanha) lamentou a decisão, considerando ser “um retrocesso importante para Portugal e para a relação entre os dois países”.

Para Pablo Carrillo, o ramal de Cáceres “faz parte da linha mais curta entre Madrid e Lisboa e tudo o que seja limitar essa ligação rápida só pode ir em detrimento das comunicações e da política económica e social entre as duas comunidades”.

A posição do autarca espanhol surge depois de a Rede Ferroviária Nacional (REFER) ter confirmado que o ramal de Cáceres vai ser encerrado à exploração ferroviária a partir de 15 de Agosto, tal como o PÚBLICO já tinha noticiado hoje no seu site. A consequência é que o comboio internacional Lusitânia Expresso passará a circular pela linha da Beira Alta.

Este encerramento vem na sequência de orientações estabelecidas pelo Plano Estratégico dos Transportes (PET) e abrange cerca de 65 quilómetros de linha ferroviária.

Contactado pela Lusa, o presidente do município de Marvão, Vítor Frutuoso (PSD), mostrou-se também contra a decisão, salientando que o encerramento do ramal ferroviário vai “prejudicar a região”. Para o autarca, este encerramento é mais uma “machadada no interior”. “A CP tem feito o trabalho a prestações e este é o trabalho final. Por isso, desagrada-nos profundamente. É triste”, disse.

O seu congénere espanhol, Pablo Carrillo considerou ainda a decisão da REFER como “um erro histórico depois de 170 anos de funcionamento da linha”, prometendo, tal como Vítor Frutuoso, que não vai baixar os braços neste processo.

O alcalde de Valência de Alcântara lamentou que as autoridades portuguesas não tenham levado “em conta” as propostas da parte espanhola para evitar o encerramento do ramal, sublinhando que as mesmas eram “muito generosas”. “A parte portuguesa deveria reconsiderar a sua posição”, disse.

Pablo Carrillo anunciou, por outro lado, que a partir de 16 de Setembro vai começar a circular um comboio de Madrid até Valência de Alcântara, lamentando que não possa continuar o seu trajecto até Lisboa. “O comboio não vai poder ter continuidade até Lisboa, porque as autoridades portuguesas vão impedir esse passo. Não entendemos”, lamentou.

O encerramento do ramal de Cáceres era uma ambição antiga do Governo, muito contestada pelos autarcas portugueses e espanhóis das zonas onde o Lusitânia Expresso -- que liga Lisboa a Madrid -- passa.

Em Novembro passado, os autarcas chegaram mesmo a fazer uma acção de protesto contra a medida prevista no PET.

Na quinta-feira, o coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) alertou que o Ramal de Cáceres estava ao abandono e sem manutenção. O ramal de Cáceres tem 81,5 quilómetros e liga Torre das Vargens, na Linha do Leste, à fronteira com Espanha na estação de Marvão-Beirã, seguindo depois até Madrid.

Actualmente circulam naquela linha apenas o Lusitânia Expresso e comboios de mercadorias.

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