Ovar mostra como se transforma uma Etar desactivada num parque de lazer

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A autarquia espera que a água atraia a avifauna e, por isso, o parque terá um posto de observação Adriano Miranda

Espaço de 24 hectares tem quatro lagoas, um centro interpretativo, torre de observação, jardim de aromas, parque infantil. Inauguração acontece em Agosto.

A Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) Esmoriz/Cortegaça funcionou durante 15 anos consecutivos recebendo, como era sua missão, todo o saneamento da parte norte do concelho de Ovar. Há cerca de oito anos deixou de cumprir a função logo após a entrada em funcionamento da ETAR de Paramos, no vizinho município de Espinho. No meio de um bosque, com uma pequena estrutura de betão e quatro lagoas, o extenso verde de 24 hectares transforma-se agora no parque de lazer do Buçaquinho entre Esmoriz e Cortegaça. A inauguração acontece em Agosto. A data ainda não está marcada no calendário, mas uma coisa é certa: não haverá cobrança de bilhetes à entrada.

Como se transforma uma ETAR num parque de lazer aberto à população? Ovar dá a resposta no terreno sem cheiros desagradáveis por perto e ainda recorre a energias renováveis para mostrar que o ambiente pode esticar para muitos lados. As quatro lagoas que durante anos receberam esgotos estão a ser depuradas e terão patos. A avifauna que se concentra junto às lagoas justifica dois postos de observação que camuflam quem quer ver sem ser visto. A poente está uma torre de observação que será revestida a madeira para proporcionar uma privilegiada relação visual com toda a envolvente.

Ali ao lado, surge um parque infantil com capacidade para 200 crianças. A relva está a ser semeada em 30 mil metros quadrados e 5.000 árvores serão plantadas para mais verde e sombra. E, seguindo uma tendência cada vez mais presente em espaços públicos, não faltam por aqui ervas aromáticas, entre elas várias alfazemas, como o rosmaninho, alecrim e outras espécies com menores necessidades de água de rega.

O novo parque de lazer não vai apagar o passado e esquecer que foi uma ETAR. Nada disso. Essa parte da sua história estará salvaguardada numa componente pedagógica que se quer bem presente e vincada. O centro interpretativo, além de uma cafetaria com esplanada, terá uma sala polivalente e uma sala de exposições que terão nas paredes material ligado à componente ambiental. Para crianças, jovens, adultos e turistas perceberem como funcionava uma ETAR e ficarem a saber o que há para ver na barrinha de Esmoriz e na sua envolvente. Estes temas terão lugar cativo no parque do Buçaquinho. E como a ecopista do Atlântico, que liga Esmoriz ao Furadouro, numa extensão de 10 quilómetros, passa por ali, há já ideia de colocar bicicletas à disposição para quem queira visitar o concelho vareiro em duas rodas.

Água filtrada

As energias renováveis também entram no projecto. O sol, o vento e a água são aproveitados de várias maneiras. Tiago Esteves, engenheiro electrotécnico da Câmara de Ovar, explica que foi construído um pequeno açude e dois furos artesianos na ribeira de Maceda, que passa ali ao lado, para captação de água. A água das lagoas, depois de tratada, passa para a ribeira em direcção à barrinha e assim o circuito das águas residuais é mantido. E, nesse processo, entram quatro torres eólicas e 12 painéis fotovoltaicos, "que vão fornecer energia às bombas", que permitem que a água se movimente e cumpra o seu ciclo. Além disso, 2,5 quilómetros de rolos fitodepuradores entram em acção e nas lagoas estarão 57 ilhas depuradoras flutuantes.

O vereador do Ambiente da Câmara de Ovar, José Américo, está satisfeito com a obra, com o lifting da ETAR. "É um espaço não só de valorização ambiental, mas também de lazer e bem-estar", refere. E que tem muitas potencialidades. "O parque do Buçaquinho não se fechará em si mesmo quando for inaugurado", avisa. E concretiza. Na sua opinião, o parque de lazer que nasceu de uma ETAR pode ser objecto de estudo, pode estimular novas ideias de curiosos ou académicos, pode sugerir outras abordagens. Até porque junta em 24 hectares "fauna, flora, inovação tecnológica e a componente de bem-estar".

Há muito por explorar. "Além do valor ambiental do parque, há as questões das energias renováveis, a interpretação do meio ambiente, a componente pedagógica, a própria aprendizagem de mecanismos inovadores na renovação da água", concretiza. E toda essa transformação, sublinha o vereador do Ambiente, só poderia ter surgido da cabeça de autarcas que conhecem, sentem e pensam o seu território e com "criatividade, visão e técnicos competentes que definiram as matrizes". O local é também visto na vertente económica. José Américo acredita que o novo parque de lazer vai atrair turismo. A transformação representou um investimento de 1,46 milhões de euros, comparticipados em 80 por cento pelo programa MaisCentro.

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