Peugeot Citroën encerra fábrica com centenas de portugueses em França

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Com o encerramento da fábrica próxima de Paris, saem da empresa 3000 trabalhadores Foto: Benoit Tessier/Reuters

A construtora automóvel PSA Peugeot Citroën vai cortar 8000 postos de trabalho em França e encerrar, em 2014, uma fábrica perto de Paris onde trabalham centenas de portugueses. O Governo francês prepara já um plano de assistência para o sector. Os sindicatos adivinham uma “grande batalha” pela frente.

A enfrentar uma situação financeira delicada, pairava sobre a maior fabricante francesa de automóveis a hipótese de um resgate estatal. Nesta quinta-feira, a empresa anunciou uma reestruturação a fundo que não abrange a área internacional. Em Portugal, estão, por isso, garantidos os postos de trabalho da fábrica portuguesa do grupo em Mangualde, assegurou ao PÚBLICO a responsável pela comunicação da empresa, Anabela Ferreira.

Uma boa parte das saídas de trabalhadores em França deverá ser feita através de rescisões voluntárias dos contratos de trabalho. Com 3600 quadros da administração e das áreas de investigação, desenvolvimento e comércio, a Peugeot Citroën conta negociar saídas por mútuo acordo.

Ao encerrar a unidade de produção de Aulnay-sous-Bois, perto de Paris, a empresa despede mais 3000 trabalhadores, através de rescisões que serão negociadas a partir de agora até ao encerramento da fábrica em 2014. E há ainda 1400 funcionários da fábrica de Rennes em risco.

A comunidade portuguesa de Aulnay-sous-Bois recebeu a confirmação do plano da empresa com apreensão e teme pelo impacto que o fecho da fábrica possa ter noutras empresas da região, incluindo negócios de portugueses.

À TSF, o presidente da Associação Cultura Portuguesa da Aulnay-sous-Bois, Paulo Marques, adiantou que “mais de 10% dos assalariados [desta unidade de produção] são de origem portuguesa”, informação que a empresa diz não conseguir confirmar neste momento. Questionada pelo PÚBLICO, a porta-voz da Peugeot Citroën, Cécile Damide, garantiu que a comunidade portuguesa na fábrica é significativa.

Paulo Marques teme agora que o encerramento provoque “danos colaterais” em empresas que, por sua vez, empregam outros portugueses e que trabalham com a fábrica de Aulnay. E notou que será “muito difícil à cidade” e à própria região de Île-de-France (Paris) absorver os problemas económicos e sociais do fecho” da fábrica. A PSA é o maior empregador privado de Seine-Saint-Denis, que é o departamento mais pobre de Île-de-France.

Philippe Varin, líder da PSA, deverá detalhar hoje o plano da administração, sublinhando as cinco razões que explicitou em comunicado sobre a “reorganização da sua base industrial em França e de reafectação dos seus efectivos”. Uma delas está ligada ao mau desempenho do grupo nos primeiros seis meses do ano, com resultados piores do que esperado, num sector em contracção na Europa.

Na primeira metade de 2012, o grupo teve uma quebra de 13% nas vendas e prevê que a contracção anual seja de 10%, em parte devido à “exposição à Europa do Sul”.

O encerramento desta unidade, disse o primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, “é um verdadeiro choque” para a indústria francesa.

Para justificar o encerramento da unidade de Aulnay-sous-Bois e a redução de quadros, a empresa justifica ainda que a taxa de utilização das unidades de produção europeias ficou nos 76% no primeiro semestre. E defende a necessidade de voltar ao equilíbrio no final de 2014.

A Peugeot Citroën é o primeiro grupo automóvel francês (e o segundo da Europa, a seguir à alemã Volkswagen). A decisão representa, por isso, segundo o diário Le Monde, um verdadeiro golpe na indústria automóvel. E o encerramento da fábrica de Aulnay-sous-Bois – já esperada pelos analistas – uma perda simbólica, uma vez que o último encerramento de uma fábrica automóvel em França, a Renault Billancourt, foi há duas décadas, de acordo com o mesmo jornal.

Durante a campanha eleitoral das presidenciais, o esperado encerramento desta fábrica foi um tema quente, com os vários candidatos a visitarem as instalações. Nicolas Sarkozy, então ainda a lutar pela reeleição, prometia que a fábrica não encerraria.

Em Portugal, a PSA Peugeot Citroën assegurou que a unidade de produção de Mangualde não é abrangida pela reestruturação, estando assegurados os 900 postos de trabalho, disse Anabela Ferreira.

Notícia actualizada às 9h09 e às 11h55
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