Portugal é dos países em que tirar um curso mais pesa nos rendimentos
Ensino superior absorve mais de um quinto dos rendimentos das famílias portuguesas com filhos em universidades, um dos valores mais altos entre 16 países analisados. Estado está a gastar menos por aluno.
Portugal é dos países europeus em que o peso do esforço financeiro dos pais para ter um filho no ensino superior é mais elevado em relação à mediana do rendimento do país. Esta é uma das principais conclusões do estudo O Custo dos Estudantes no Ensino Superior Português, realizado por uma equipa de investigadores do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e que será apresentado hoje, durante um seminário no auditório da universidade.
O estudo, coordenado por Luísa Cerdeira, concluiu que os custos anuais das famílias portuguesas com a educação atingiram os 1934,83 euros no ano lectivo de 2010/2011, o que representa 22% da mediana do rendimento português. A mediana é o valor auferido pelo agregado familiar que se encontra exactamente a meio da tabela dos rendimentos do país.
Neste indicador, Portugal aparece em 10.º lugar numa lista de 16 países analisados, atrás da Noruega, que lidera o ranking com apenas 2,2%, e de países como a Dinamarca (2,3), França (2,8), Alemanha (4,2) e Inglaterra (21,5), e à frente do Canadá (22,4), Estados Unidos (51,3), Japão (21,1) e México, que fecha a tabela com um peso de 110%.
Se se considerar os apoios sociais concedidos (bolsas) e o valor das deduções fiscais para Educação, o custo líquido representa 63,6% do valor da mediana do rendimento português. Na Alemanha, este valor é de 26,4%, em França de 35,2, na Suécia de 29,2 e na Letónia de 38,5%.
Em declarações ao PÚBLICO, Luísa Cerdeira admitiu não ter ficado surpreendida com os resultados a que chegou. "Desde a década de 2000 que estudo estes valores e há não só uma constância como um acentuar deste padrão: ter um filho no ensino superior continua a absorver um valor muitíssimo alto dos rendimentos das famílias, estando Portugal mais próximo até de países em que custa muito estudar no ensino superior, como os Estados Unidos e o Japão".
A também pró-reitora da Universidade de Lisboa salienta que "o maior esforço da família portuguesa para poder fazer face aos custos não tem só a ver com os custos de educação e do custo de vida, mas também com o nível médio do rendimento do país".
Estado dá menos por alunoO estudo - que dá sequência a dois anteriores sobre o mesmo tema - conclui também que o Estado investiu menos dinheiro por aluno entre 2004 e 2010, enquanto o esforço financeiro das famílias aumentou neste período.
Tendo em conta o valor do Orçamento do Estado (OE) inscrito (com a redução salarial) de 2011 afecto às universidades e politécnicos, incluindo serviços de acção social, o Estado gastou 3601 euros por aluno, o que representa uma diminuição de 13,3% face a 2005. Já o custo total por aluno no ensino público ascendeu a 5841 euros em 2011, ou seja, mais 10% do que em 2005. Isto significa que o peso do contributo público face ao total de custos de uma família desceu de 44 para 38% neste período, enquanto o peso do esforço do agregado familiar subiu de 56 para 62%.
Luísa Cerdeira salienta o facto de, apesar de se ter registado um crescimento nominal moderado dos gastos com educação e os custos de vida, em termos reais verificou-se uma "estabilização" dos custos totais e mesmo uma descida dos custos com a educação. "A contracção do esforço público é que foi muito maior", frisa a coordenadora deste projecto, referindo-se à diminuição das verbas do OE disponibilizadas às instituições.
Outra das conclusões é que o valor da bolsa média cobre cerca de 25% dos custos totais dos estudantes, um valor que se manteve no período em análise. Mas se, no ensino público, a bolsa média cobre a totalidade dos custos de educação, no ensino privado não chega a cobrir nem metade dos gastos: em 2005 cobria 44% e, cinco depois, apenas 37%.
Estes e outros números (ver infografia) resultam de um questionário a 1039 estudantes com pelo menos uma segunda matrícula, abrangendo uma amostra representativa do universo do Ensino Superior a nível nacional (continente e regiões autónomas), público ou privado e universitário e politécnico.