Dar prioridade ao equilíbrio orçamental é “mal-entendido macroeconómico”, diz Jeffrey Sachs

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Tratar a crise financeira como orçamental é “um grande erro”, diz o economista norte-americano Foto: Stefano Rellandini/Reuters

O economista Jeffrey Sachs criticou nesta quinta-feira a abordagem europeia à crise financeira internacional, considerando um “estranho mal-entendido macroeconómico” a prioridade ao equilíbrio de orçamentos, em vez de se assegurar liquidez no sector bancário.

Falando na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, numa conferência sobre a crise do euro, Sachs defendeu que Europa e Estados Unidos “estão a viver a mesma crise”, que a curto prazo é de instabilidade nos mercados financeiros e a longo prazo de perda de competitividade económica, e têm diferido só nas políticas e remédios aplicados.

“Foram os mesmos bancos, os mesmos mercados [na Europa e nos Estados Unidos], quer fossem em dólares ou euros. Tivemos bolhas em vários países”, disse Sachs.

Para o economista, os bancos fomentaram a criação de bolhas no mercado imobiliário, além de “activos tóxicos”, e no caso da Europa os bancos franceses e alemães “tiveram um papel enorme” neste processo.

Com o explodir destas “bolhas”, os Estados Unidos acorreram ao resgate de instituições financeiras e injectaram liquidez no sistema financeiro, através da Reserva Federal, enquanto a União Europeia se debate com a resposta porque “no pensamento económico alemão não há tal coisa como um financiador de último recurso”.

“A Alemanha tem-se recusado a reconhecer a crise bancária e trata-a como uma crise orçamental o que é factualmente errado”, defendeu o economista.

Dada a fraca resposta do Banco Central Europeu, até entrar o novo presidente, Mario Draghi, a Europa “entrou numa amplificação da bolha de 2008”.

Os economistas alemães no BCE “resistiram” à intervenção, um “estranho mal-entendido macroeconómico” que “pode levar a autodestruição da zona euro”.

Para Sachs, o “colapso do crédito bancário a curto prazo” na Grécia, que deixou o país em queda livre, mostra como é “um grande erro” tratar a crise financeira como orçamental.

“A curto prazo, a crise financeira tem de ser lidada com crédito bancário”, defendeu.

O pano de fundo, adiantou, é a competitividade e produção industrial estarem a mudar-se para outras partes do mundo, em particular para a China, um problema partilhado nos dois lados do Atlântico.

“Não há nada de fundamentalmente errado com a Europa, há um sector bancário com problemas”, disse Sachs, que apontou mesmo países como a Suécia, Noruega e Dinamarca como modelos de sustentabilidade económica e ambiental.

Também para Guillermo Calvo, da Universidade de Columbia, a crise é de “liquidez”, não de sustentabilidade orçamental, e é necessária maior intervenção do BCE, algo em que a Alemanha “terá um papel chave”.

Neste momento, disse, “o sistema financeiro está a andar sobre gelo fino”, o que deixa “os norte-americanos nervosos”.

A conferência foi aberta pelo presidente do conselho económico da Casa Branca, Alan Krueger, que defendeu que os Estados Unidos estão hoje “numa posição muito diferente comparada com a da Europa”, graças às reformas financeiras recentes.

“A Europa ainda tem muitos ajustamentos a fazer para fortalecer o seu sector financeiro”, disse o principal conselheiro económico de Barack Obama.

“A nossa posição continua a ser que a Europa tem recursos e capacidade para lidar com os seus problemas. Fizeram muitos progressos, é importante que continuem porque há uma tremenda dependência de eles resolverem os seus problemas financeiros”, adiantou.

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