Bairro da Fontinha: o “despejo” de Rui Rio?

Esta sexta-feira decorreu a 46.ª Assembleia do Projecto Es.Col.A. Naquele largo, no dia de hoje, creio bem que, como alguém disse, pode ter sido iniciado “o despejo de Rui Rio”

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Nelson Garrido

20 de Abril de 2012, no Porto. Passam poucos minutos das 18h40. No Largo da Fontinha, quase duas centenas de pessoas esperam ordeiramente pelo início da 46.ª Assembleia do Projecto Es.Col.A.

Ao contrário de tantas já realizadas, nesta reunião não se discutirão os projectos em curso, nem o andamento das actividades, nem as tarefas levadas a cabo por cada um dos grupos de trabalho. Não. Esta sexta-feira, passadas pouco mais de 24 horas sobre o desalojamento forçado do Es.Col.A das instalações da Escola da Fontinha, esta Assembleia vai decidir quais as iniciativas a tomar nos próximos dias. O objectivo último está na mente de todos: a reocupação do espaço que, sendo embora propriedade da Câmara Municipal do Porto, pertence verdadeiramente aos moradores do Bairro e a todos aqueles que, desde há um ano, têm usado e permitido que o local seja usado em benefício da comunidade.

Iniciada a reunião, e de forma pacífica, os participantes vão tomando a palavra. Ouvem-se, na primeira pessoa, os depoimentos de moradores e de membros do movimento. Esta gente fala, de coração aberto, sobre a riqueza e o engrandecimento que o projecto trouxe à vida de cada um deles, e relata, com emoção, a tristeza e o desalento que ainda ontem, quinta-feira, sentiu, ao olhar a destruição de tudo quanto, durante um ano, foi erguido com e pela comunidade.

São muitas as propostas apresentadas. São muitas mais as vozes corajosas daqueles que continuam a acreditar que é possível levar avante este sonho. Todos de acordo quanto à necessidade de se reocupar a Escola da Fontinha tão breve quanto possível. Alguém avança com o dia 25 de Abril para a concretização do desiderato — o simbolismo da data ganha, nesta Assembleia, uma nova força, decorrente da sensação de castração sentida quinta-feira. Apela-se à mobilização da cidade. Nem uma voz dissonante. Nenhuma reticência ou hesitação.

Retive, no longo pedaço em que lá estive, a organização espantosa de todo aquele movimento, ainda que sem uma liderança assumida. Impressionou-me o pacifismo de todos os presentes — sem que isso significasse, em momento algum, passividade — e a seriedade de propósitos que transpareceu. Tocou-me a coragem e a firmeza daquela gente, que continua a acreditar que este projecto é possível, apesar de todas as contrariedades e obstáculos. Guardei, como exemplo, a resiliência de tantos na prossecução do objectivo.

Naquele largo, esta sexta-feira, creio bem que, como alguém disse, pode ter sido iniciado “o despejo de Rui Rio”.

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