Hulk, Hulk, Hulk?!

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1. Confesso que não assisti ao jogo FC Porto-Manchester City com a devida atenção. Não posso, por isso, garantir que tenha havido manifestações racistas vindas das bancadas e dirigidas a jogadores da equipa inglesa. Mas de uma coisa estou certo: nunca tinha ouvido os adeptos dos dragões gritar “Hulk, Hulk, Hulk”. A bem dizer, e atendendo à forma simiesca como isto soa, custa-me a crer que alguém usasse tal mensagem à laia de apoio.

É muito dura esta questão do racismo. Por um lado, o politicamente correcto tão em voga nos dias de hoje tanto exacerba manifestações individuais (como se viu no caso Evra/Suarez) como é capaz de as virar contra a vítima (será que Javi Garcia insultou mesmo Alan? – nunca saberemos, porque a denúncia foi recebida com ameaça de sanções… ao alegado ofendido).

Eu gosto de traçar uma linha entre o que é evidente aos olhos do público e o que devia ficar apenas entre dois adversários em campo. Acho que os segundos casos, sem aproveitamentos oportunistas ou ressabiamentos diversos, não deviam vir cá para fora. Muita gente discorda. E fazem bem. Este é um tema que não se deve calar. E da discussão há-de sair alguma luz.

Mas quando a coisa entra no domínio público (e, com a denúncia feita por Evra, foi isso o que aconteceu em relação a Suarez), então a justiça desportiva deve ser implacável. Agora são dois jogadores do City a queixarem-se de cânticos racistas no Dragão. Um deles, Yaya Touré, chegou mesmo a alvitrar que “talvez em alguns países não esperem ver jogadores negros”, o que diz muito sobre o seu conhecimento da sociedade portuguesa, em geral, e do futebol luso, em particular…

Adiante. Não farei de juiz num caso em que não disponho de todos os elementos. Mas também não deixo que me chamem parvo. E foi isso que alguém do FC Porto quis fazer – a mim e a todos os que seguem o futebol com alguma atenção – com a estratégia básica de tentar tornar natural o cântico “Hulk, Hulk, Hulk”, entoado até aos limites da azia em Setúbal.

2.

Pertenço ao grupo dos que não gostam mesmo nada de Sá Pinto. O seu perfil psicológico, o seu temperamento explosivo, a naturalidade com que passa à agressão física dizem-me que está aqui tudo o que não quero ver num líder. Que a actual direcção do Sporting o tenha colocado a tutelar os escalões de formação (depois de ter saído do clube exactamente devido a um episódio de violência), é daquelas coisas que não têm explicação.

Agora foi promovido a treinador da equipa principal. Não sei o que vale Sá Pinto com técnico. Mas o facto de não gostar dele não me impede de reparar nos sinais de delírio colectivo que se vive nas bancadas de Alvalade. Ouvir os adeptos a assobiarem a equipa assim que esta fazia dois passes para trás no jogo com o Paços de Ferreira dá um claro sinal de como será difícil a vida para quem quer que envergue aquela braçadeira de treinador.

Para já, Sá Pinto conseguiu um bom resultado fora na Liga Europa e venceu o seu primeiro jogo de campeonato em Alvalade. A equipa, que alguns adeptos insistem em ver como um conjunto de artistas pagos a peso de ouro e que os desilude a torto e a direito, terá de superar muita coisa para dar a volta por cima, a começar pela sua própria falange de apoio. Como se diz que as claques organizadas têm muito poder dentro do Sporting, e essas gostam muito do actual técnico, parece-me evidente que há claras brechas na família de Alvalade.

Para já, Sá Pinto está a sair-se bem. Tenho dúvidas que ele mereça. Mas o Sporting tem de ser maior do que isso.

3.

O Benfica perdeu em Guimarães. Foi a primeira derrota na Liga e proporciona, para já, nova emoção na prova, com a reaproximação do FC Porto. Para os encarnados, foi daquelas noites em que nada, nem mesmo as coisas mais óbvias, saem bem. Passes falhados, desaproveitamento total das bolas paradas, hesitações tácticas.

Jorge Jesus não abordou bem a partida. Para não ter de escolher entre Cardozo e Rodrigo, acabou por deixar ambos órfãos lá frente, muito longe de um Aimar demasiado preso à posição, sem a protecção de Witsel (no banco) e Javi García (de fora). Mais tarde, com o belga em campo, o argentino soltou-se e viu-se algum Benfica. Se a fórmula tem resultado, porquê inventar?

Resta dizer que os jogadores do V. Guimarães foram exemplares na entrega ao jogo. Foram sempre os mais rápidos sobre a bola e conseguiram pressionar no campo todo ao longo de quase toda a partida. Mereceram ganhar.

Corrigido às 15h16
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