Novo Governo espanhol recebido pelos mercados com juros da dívida recorde

Taxas de juro quando foram conhecidos os novos chefes de Governo da Grécia, Itália e Espanha
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Taxas de juro quando foram conhecidos os novos chefes de Governo da Grécia, Itália e Espanha PÚBLICO/Reuters
Mariano Rajoy, ontem, a festejar a maioria absoluta do PP
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Mariano Rajoy, ontem, a festejar a maioria absoluta do PP Juan Medina/Reuters

A primeira reacção dos mercados financeiros à vitória esmagadora do conservador Mariano Rajoy nas eleições legislativas de Espanha não retirou pressão sobre a economia do país. Antes pelo contrário. As taxas de juro da dívida voltaram a subir para máximos históricos e o risco comparado com as obrigações alemãs continua acima dos 460 pontos-base. A bolsa de Madrid fechou a cair quase 3,5%.

As taxas de juro das obrigações a dez anos transaccionadas nos mercados secundários de dívida estão acima dos 6,5%, tendo hoje disparado para um valor recorde desde que existem notas e moedas de euro, segundo dados da agência Reuters. A diferença exigida pelos investidores pela compra de dívida espanhola em relação à alemã – que é a referência dos mercados financeiros – chegou aos 464 pontos-base, segundo números citados pela imprensa espanhola com base em informações do mercado comunicadas à agência financeira Bloomberg.

O prémio de risco da dívida espanhola ultrapassou, na sexta-feira, a barreira dos 500 pontos-base, o valor mais alto em 14 anos, e ficou acima do risco associado à dívida de Itália pela primeira vez desde Agosto último. Hoje, o chamado prémio de risco está abaixo desse patamar, mas as taxas de juro saltaram para um novo recorde histórico que as aproxima de níveis considerados pelos analistas como insustentáveis a prazo, por comprometerem o acesso ao financiamento do Estado a níveis normais.

À parte do novo ciclo político aberto com a maioria absoluta do Partido Popular (PP), a escalada está a ser atribuída pela imprensa espanhola ao facto de a situação de crise não depender apenas da conjuntura espanhola. Os “mercados recebem Rajoy com novas subidas no prémio de risco e quedas nas bolsas” europeias, escreveu o El País online, notando que os investidores não estão a dar um minuto de descanso ao futuro Governo de Rajoy.

A dívida a cinco a e dois anos espanholas estão também em novos máximos, abaixo – mas não distantes – do patamar dos 6%. A cindo anos, as taxas das Obrigações do Tesouro sobem para os 5,968% e a dois para os 5,679%.

Na semana em que a Comissão Europeia vai apresentar as propostas para ser discutira a criação de obrigações europeias (emissão de dívida conjunta na zona euro), Portugal, Grécia e Itália seguem sem tendência definida nas taxas de juro da dívida nos mercados secundários. Os três países registam subidas e descidas entre diferentes maturidades da dívida. No caso das obrigações a dez anos, as portuguesas sobem ligeiramente para 11,332%, enquanto as gregas caem para 26,305% e as italianas descem para 6,682%.

Nas bolsas, Madrid acompanhou as maiores quedas nas bolsas europeias – uma trajectória em sentido negativo comum às praças de referência do Velho Continente. O índice madrileno Ibex encerrou a cair 3,48%, Milão cedeu 4,74%, Atenas desvalorizou 3,74%, Frankfurt terminou com um recuo de 3,35%, Amesterdão com uma quebra de 3,02% e Lisboa a derrapar 2,08%.

Numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, o ministro das Finanças polaco, Jacek Rostowski, resumiu o sentimento de incerteza que atravessa os mercados e os governos europeus, destacando que os “perigos de contágio são hoje maiores do que nunca”. “Estamos perante uma escolha horrível: na ordem dos horrores, a alternativa é a seguinte: seja uma intervenção maciça do BCE, seja a catástrofe”, disse, citado pela AFP.

Notícia actualizada às 16h49
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