Planear bem uma viagem pela Internet

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Ricardo Reis da Silva , Ana Rita Sousa e o irmão de Raquel Rebelo de Mira Foto: Pedro Cunha

Por incrível que pareça, planear uma viagem de uma morada no Porto até outra em Lisboa não é fácil. Quem o diz é Ricardo Reis da Silva, de 28 anos, estudante de doutoramento em Matemática. O português que vive na Holanda há cerca de seis anos teve dificuldades em planear esta viagem e teve de recorrer a três sítios de Internet diferentes. É este problema que a equipa do Teco-Planner, composta por Ricardo, Ana Rita Sousa e Raquel Rebelo de Mira, quer combater no âmbito do concurso promovido pelas fundações Gulbenkian e Talento, Faz - Ideias de Origem Portuguesa.

O grupo pretende criar um calculador de itinerários nacionais de transportes públicos, semelhante ao existente para transportes aéreos; para que, a partir de duas quaisquer moradas de Portugal, seja possível planear uma viagem utilizando apenas os transportes públicos. Essa plataforma vai permitir aos utilizadores determinar "diversas opções de viagem" através da morada e código postal, quer do ponto de partida, quer do ponto de chegada.

"Na Holanda, existe uma plataforma em que posso calcular a minha viagem em transportes públicos de qualquer ponto do país", conta Ricardo Reis da Silva ao P2. "Seria uma boa ideia para implementar em Portugal", defende. A directora do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, Luísa Valle, constata que quem está fora do país "consegue ver de longe certos problemas" e "com experiências diferentes" podem ajudar a "mudar Portugal".

A plataforma idealizada pela equipa do Teco-Planner não contaria "apenas" com um calculador de itinerário, incluiria ainda outro tipo de soluções para fazer uma viagem em transportes públicos, permitindo calcular a mais económica, a mais rápida e a mais "verde" (ou seja, com menor impacto ambiental, possível através da medição das emissões de CO2).

O projecto pretende ajudar o utilizador a tomar "decisões conscientes dos custos económicos e ambientais das suas viagens" e também "promover o uso de transportes públicos como alternativa ao automóvel e ao transporte aéreo", explica Ana Rita Sousa, de 29 anos, que trabalha há seis anos no ramo de desenvolvimento de software no Porto. A equipa conta com a sua experiência e contactos para simplificar e democratizar o acesso à informação sobre os transportes públicos em Portugal.

O Teco-Planner diferencia-se do que já existe pela sua abrangência. A portuense conta que as soluções existentes em Portugal são plataformas que "fazem cálculos numa rede urbana"; a nova ideia pretende "operar a nível nacional". "O desafio é ainda maior do que o que está neste momento implementado", assegura.

Seria uma mais-valia não só para os habitantes nacionais, mas também para os turistas. "Mais do que uma boa rede de transportes, é essencial que esta tenha informação clara e ao alcance de qualquer pessoa", em português e inglês, por exemplo.

Mas a plataforma não terá exclusivamente informações sobre os transportes públicos. A equipa vai tentar introduzir a cada destino alguns pontos turísticos, hotéis, pensões e restaurantes, numa acção de promoção da zona e também fonte de receitas através da venda de publicidade. As receitas serão utilizadas para a manutenção do site, feita pelas empresas envolvidas, já que, "se ficar desactualizado, o projecto perde todo o sentido" .

A equipa tem noção de que, sendo esta uma boa ideia, vão deparar com obstáculos à sua realização. Para começar: as empresas de telecomunicações. Embora seja um projecto social e parte das receitas seja para estes operadores, a equipa tem receio de não conseguir convencê-los, "principalmente porque existem modelos de gestão de redes e relação de dados diferentes de empresa para empresa". Se ganharem o prémio, parte deste financiamento poderá ir para uma investigação tecnológica, já que é necessário uniformizar toda a informação, desde linhas de comboios, trajectos de autocarros, horários, publicidade, etc., na mesma plataforma."

Apesar das dificuldades que sabem que vão enfrentar, a equipa está motivada. O prémio de 50 mil euros "seria uma mais-valia para encontrar outros investidores, mas, se tal não acontecer, vamos continuar a desenvolver o Teco-Planner", defende Ricardo Reis da Silva.

A viver na Holanda, esta ideia que está a concurso poderá ser a oportunidade para voltar para Portugal. "Se vir que tenho as condições necessárias para implementar a ideia aqui, sim, voltaria", conclui, sorridente.

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