Cumprir o limite de segurança climática “está a tornar-se utopia”, diz Filipe Duarte Santos

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Em 2010 o carvão foi responsável 44 por cento das emissões de CO2 Foto: Stringer

Manter o planeta dentro do limite de segurança climática, impedindo um aumento da temperatura mundial superior a 2ºC, “está a tornar-se uma utopia”, comentou o especialista Filipe Duarte Santos, reagindo aos dados históricos revelados hoje pela Agência Internacional de Energia.

Acima de tudo, “são más notícias”, diz este físico da Universidade de Lisboa e coordenador do estudo mais completo sobre os impactos das alterações climáticas em Portugal.

Filipe Duarte Santos lembra ao PÚBLICO que “o aumento que se deu em 2010 foi 1,6 Gigatoneladas de CO2, aumentando de 29 em 2009 para 30,6 em 2010. Com este aumento, estamos numa situação que impede o cumprimento do limite dos 2ºC. Está a tornar-se uma utopia”.

Para que o planeta não ultrapassasse os 2ºC seria preciso que, até 2020, chegássemos às 32 Gt de emissões de CO2, como valor máximo. Mas acontece que já atingimos as 30,6 Gt. “Se em 2011 tivermos um aumento comparável ao de 2010, isso significará que vamos ultrapassar o máximo que só deveríamos atingir em 2020”.

E não nos podemos dar ao luxo de não haver consequências. “A continuarmos neste percurso de ‘business as usual’, o que tem alguma probabilidade, chegaremos aos 4ºC de aumento médio global da atmosfera à superfície em 2100”, alerta.

“Será um mundo bastante diferente, também em Portugal”, nomeadamente quanto à subida do nível do mar. Filipe Duarte Santos lembra-se bem de que “há dez ou 15 anos, a comunidade internacional estava concentrada na mitigação, estava no ar a convicção de que seria possível resolver o problema. Era politicamente incorrecto falar-se de adaptação. Hoje, as coisas mudaram”.

Com uma utilização maior do carvão e com poucos avanços nas negociações internacionais para um sucessor do Protocolo de Quioto, que expira no final de 2012, este responsável não vê “grandes possibilidades de inverter o processo”. Os Estados Unidos continuam “sem uma legislação sobre energia e clima” e não se antevê que venham a “liderar o processo ou a dar o exemplo”. Por outro lado, a China “tem a preocupação de manter um crescimento económico de oito por cento ao ano, sob pena de efeitos sociais preocupantes”.

As emissões de CO2 ligadas ao consumo de energia em 2010 foram as mais elevadas de sempre, revelou hoje a Agência Internacional de Energia. De acordo com a agência, o carvão foi responsável 44 por cento das emissões de CO2, o petróleo por 36 por cento e o gás natural por 20 por cento.

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