Também o Jamor é o destino do FC Porto

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Portistas festejam o quarto título da época Rafael Marchante/Reuters

“Este é o nosso destino”, diz a frase usada pelos adeptos do FC Porto nos cachecóis, bandeiras, carros e nos autocarros. Referem-se às finais (muitas), vitórias (tantas), títulos (imensos). O destino é o costume: festa. O pai Zé António, a mãe Inês e o filho João Pedro estavam nas bancadas do Jamor e os bonés não deixavam dúvidas com a palavra Dublin inscrita na pala. Tinham vindo da Irlanda e tal como os jogadores do FC Porto, praticamente não descansaram. A equipa folgou na sexta e fez apenas um treino antes da final da Taça. No fim da tarde no Estádio Nacional, já com o sol a esconder-se, festejaram todos juntos - jogadores, esta família e os muitos adeptos - ao som dos cânticos a Pinto da Costa.

Este foi o melhor FC Porto da época. Pelo menos o mais goleador (6-2), para grande azar do Vitória e dos seus adeptos que vieram de Guimarães e preencheram um dos topos com as cores brancas e negras para assistirem à quinta derrota em cinco finais do seu clube. As duas últimas às mãos do seu maior carrasco: os portistas. E neste domingo, com requintes de crueldade, os vimaranenses pisaram o palco do Jamor para servirem de actor secundário numa das finais com mais golos de sempre. Foi a segunda, só ultrapassada pelo Benfica-Sporting de 1952 (5-4).

O destino parecia mesmo estar traçado. Para ambas as equipas. Um hábito de triunfos para uns – o FC Porto falhou apenas três finais nos últimos 11 anos – uma ansiedade que virou desespero para o Vitória logo aos dois minutos com o golo de James Rodríguez. O jovem colombiano, de 19 anos, assumiu na totalidade o papel de algoz. Jogou na vez de Falcao (o goleador da equipa não participou na partida por lesão) e marcou em três ocasiões, assistindo ainda os golos de Varela e Rolando. Foi ele que deu ao FC Porto a terceira Taça consecutiva, depois de Paços de Ferreira e Desportivo de Chaves terem tombado nos anos anteriores.

Os números parecem ser fatais. Em 1962, neste mesmo estádio, o FC Porto saiu goleado pelo Benfica por 6-2. Reinavam então os “encarnados”. Meio século depois, são os portistas a mandar, ultrapassaram o rival de Lisboa em títulos, precisamente com a Taça ganha neste domingo no Jamor. Mais: passaram ainda o Sporting em Taças de Portugal (16 contra 15).

Três minutos fatais

Sob um sol abrasador, o FC Porto começou cedo a impor-se. Muito cedo. E em 45 minutos já tinha decidido o resultado da final - foi para o intervalo a vencer por 5-2, igualando as melhores prestações desta época com Benfica (5-0), Villarreal (5-1), Spartak (5-1 e 2-5) e U. Leiria (5-1).

Na primeira parte houve de tudo: um golo madrugador (2 minutos), a resposta do Vitória que nunca esteve na frente (1-1 e 2-2), um penálti falhado por Edgar – só faltou a expulsão de Fernando, que derrubou um adversário quando este ia isolado –, um autogolo, de Álvaro Pereira (aliás, o defesa apenas tentou impedir o autogolo de Rolando) e um canto directo, beneficiando de um “frango” incrível de Nilson. Foi mesmo este o momento do jogo. Enquanto Beto na baliza portista se ia opondo de forma crucial aos adversários, Nilson deixou passar a bola de Hulk. Na jogada seguinte, aos 43 minutos, Edgar falhou o penálti e no contra-ataque desse lance saiu o 5-2. De um possível 4-3 e da reentrada no jogo, o Vitória acabava de afundar-se.

Vítor Baía chamou-lhe “estrelinha de campeão”, ele que em 16 épocas no clube venceu 27 títulos em mais de 400 jogos. Sabia do que estava a falar. Manuel Machado lembrou a eficácia do adversário “experiente” e o falhanço da sua equipa em momentos cruciais. Um viu a sua equipa fechar a temporada a ouro, com o quarto título e a festa em mais um estádio, o outro voltou, como sempre, de mãos a abanar.

“Uma caminhada para o sucesso”, contou assim a história desta época Villas-Boas. Mas quando destacou um momento decisivo, lembrou a segunda mão da meia-final da Taça, na Luz. O “turning point” do ano portista. Foi lá que ganhou um lugar na final do Jamor e peito para as outras competições. E só descansou ao 58.º jogo, um recorde de partidas numa temporada.

POSITIVOJames Rodríguez

Marcou três e está nas assistências para Varela e Rolando nos seis golos da tarde. Foi o melhor em campo. Isto para quem jogou no lugar de Falcao… No final, quis ficar com a bola.


Beto

É especialista a defender penáltis. No Leixões já ajudou a eliminar o Benfica. Desta vez, ajudou a derrotar o Vitória com a defesa de uma grande penalidade. E antes já tinha sido decisivo.


NEGATIVONilson

Sofreu seis golos, mas o canto directo de Hulk (4-2) foi o mais infeliz de todos. Um “frango” épico.


Edgar

Marcou um (belo) golo é certo, mas falhou dois que pareciam feitos e esses deram cabo da equipa.


Ficha de jogo

V. Guimarães 2FC Porto 6

V. Guimarães

Nilson 4, Alex 4, Freire 5, João Paulo 4, Anderson 6, Cléber 4 (Jorge Ribeiro 5, 57’), Renan 5 (João Alves 5, 46’), Rui Miguel 6, Faouzi 5, Targino 6 (Toscano 5, 57’) e Edgar 4.


Treinador Manuel Machado.


FC Porto

Beto 8, Sapunaru 6, Maicon 5, Rolando 6, Álvaro Pereira 5, Fernando 6 (Guarín 6, 46’), João Moutinho 6, Belluschi 6 (Souza 5, 63’), Varela 7 (Mariano González 5, 76’), James Rodríguez 9 e Hulk 8.


Treinador André Villas-Boas.


Árbitro

João Ferreira 5, de Setúbal. Amarelos Hulk (30’), Fernando (45’) e Souza (74’).

Golos

1-0, por James Rodríguez, aos 3’; 1-1, por Álvaro Pereira (p.b.), aos 20’; 1-2, por Varela, aos 21’:2-2, por Edgar, aos 23’; 2-3, por Rolando, aos 35’; 2-4, por Hulk, aos 42’; 2-5, por James Rodríguez, aos 45’+2’; 2-6, por James Rodríguez, aos 73’.

Notícia actualizada às 20h50
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