Inquérito do MNE a vice-cônsul de Porto Alegre envolve alegado desvio de um milhão de euros

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O inquérito foi determinado pelo secretário de Estado das Comunidades Daniel Rocha (arquivo)

O secretário de Estado das Comunidades, António Braga, aguarda o relatório final da averiguação feita em Porto Alegre, no Brasil, por um inspector diplomata para decidir o que irá fazer em relação a Adelino Cruz Pinto, vice-cônsul de Portugal na capital do Rio Grande do Sul. O inquérito foi determinado por António Braga, na sequência do conhecimento da polémica entre o diplomata e sacerdotes da arquidiocese de Porto Alegre.

Adelino Cruz Pinto deu os esclarecimentos que lhe foram pedidos pelo titular do inquérito, mas não terá ainda prestado declarações aos investigadores policiais, ao abrigo da imunidade diplomática. O vice-cônsul está a ser alvo de suspeitas lançadas por padres da arquidiocese por não ter devolvido cerca de 1,07 milhões de euros (2,5 milhões de reais) depositados na sua conta bancária.

A situação motivou uma queixa-crime e o inquérito promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), estando relacionada com o alegado desaparecimento daquela quantia, destinada a caucionar um financiamento de 12 milhões de reais provenientes de uma Organização Não Governamental (ONG) da Bélgica. Citado pela agência Lusa, o titular da investigação criminal, delegado Paulo César Jardim, afirmou que já estaria na posse de dados suficientes para "encaminhar o inquérito". "A minha parte", explicou, "era descobrir a materialidade, a prova e a autoria". Relativamente à inquirição do vice-cônsul, estarão em curso diligências do delegado Paulo César Jardim junto do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, para esse efeito.

A ONG ter-se-á comprometido a apoiar o restauro de duas igrejas de origem portuguesa na área metropolitana da capital gaúcha e, numa reunião em Lisboa, entre representantes da ONG e da arquidiocese terá ficado acordado que esta deveria depositar cerca de um milhão de euros.

Esta importância deveria ser devolvida à arquidiocese até 31 de Janeiro. Segundo afirmou ao jornal Zero Horas o coordenador pastoral de Porto Alegre, padre Leandro Padilha, a verba não regressou aos cofres da arquidiocese e terá sido movimentada pelo vice-cônsul. "Não sabemos onde foi parar o dinheiro", afirmou o sacerdote, acrescentando que o vice-cônsul lhe terá dito que o dinheiro seria devolvido até ao próximo dia 11 de Abril. O padre Padilha acusou o diplomata de ter sacado o dinheiro da conta, "dizendo que era preciso para adiantar passos do processo".

Adelino Cruz Pinto confirmou ao Estado de S. Paulo que o milhão tinha sido depositado na sua conta e que o teria transferido para a ONG belga, que não identificou. O advogado do vice-cônsul, Amadeu Weinmaann, discorda da versão veiculada pelo padre Padilha e não descarta mover-lhe uma acção. "Dizer que o meu cliente fez mau uso de dinheiro da Igreja Católica é uma afirmação grave que pode resultar em processo na justiça", disse o causídico. Weinmaann assegurou ainda que o seu cliente "emprestou a sua conta-corrente para depositar o dinheiro", anuindo a um pedido de outro sacerdote, o padre Luís Inácio Ledur.

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