O futebol não é isto

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1. O autocarro onde viajava a equipa do Benfica após o jogo de segunda-feira à noite em Paços de Ferreira foi apedrejado numa auto-estrada. Como, pelos vistos, não havia falta de munições, também o carro do presidente do clube foi atingido. Uma semana antes, um vice-presidente do emblema da Luz queixara-se de ter sido agredido depois de almoçar num restaurante do Porto.

Onde é que isto vai parar? Aberta a época de caça ao benfiquista no Norte, o que se segue? Tiro ao portista no Algarve? Batalhas de hooligans em Lisboa? Podemos dizer isto e haver quem sorria perante o exagero. Mas, infelizmente, num cenário de agudização da crise económica e social em que vivemos, o mais certo é esta vaga de violência clubística não ficar por aqui.

Os sinais estavam no ar. A “moda” de atirar bolas de golfe – um projéctil potencialmente letal – aos jogadores generalizou-se nos estádios portugueses. Continuamos a ouvir explodir petardos de cada vez que vamos ao futebol. Repetem-se os incidentes nas bancadas sem que tenhamos conhecimento da utilização dos meios de vigilância para identificar os desordeiros.

As claques organizadas estão na primeira linha deste desvario, mas os clubes encolhem os ombros, pagam as multas e clamam a sua inocência com garantias de que não apoiam estes grupos. A Liga embolsa o dinheirinho das multas e lamenta os incidentes. A polícia assume a sua impotência para identificar e deter os desordeiros dentro dos estádios. O Governo cala. A malta consente.

Estamos à espera de quê? Do primeiro morto? Um destes dias, vermelho, azul, ou verde, ele vai aparecer... E nessa altura talvez seja de pedir aos presidentes dos principais clubes que pensem seriamente no que têm andado a fazer.

Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira têm sido os actores principais de um filme de terror com muitos papéis secundários e ainda mais figurantes. Um filme onde se sucedem números de fina ironia e piadolas revisteiras dirigidas ao campo rival. Mas também comportamentos agressivos e territoriais. Ou, simplesmente, disparates boçais que as massas ululantes depois repetem na tasca.

Os dirigentes andam a semear ventos. Antes que tenhamos de colher as tempestades, é bom que isto fique dito: a culpa é vossa!

2. Apesar de tudo, ainda há futebol. Do verdadeiro, aquele que se joga com uma bola. No campo, o FC Porto deu o penúltimo passo para o título, o Benfica passou com facilidade inesperada em Paços de Ferreira, o Sporting voltou a perder pontos e o Braga, vindo de trás, parece agora ser o mais forte candidato ao quarto lugar (ou mesmo ao terceiro...).

Foi mais uma jornada de celebração para Guarín, que continua a marcar golos ao ritmo de um ponta-de-lança. O colombiano é o exemplo mais evidente de como uma rotação inteligente dos jogadores permite ter suplentes sempre em forma e com ritmo de jogo. No momento certo, eles entram como titulares e não há períodos de adaptação.

E, por falar em golos, eis mais dois de Nuno Gomes para o Benfica – estes em menos de 15 minutos de presença em campo. O número 21 da Luz jogou esta época 92 minutos em partidas oficiais e marcou cinco golos. Deve ser um recorde de produtividade na sua já longa carreira.

Mas falar de golos e não destacar – apetece dizer: agradecer – o espantoso momento de Nico Gaitán em Paços de Ferreira seria pecado. A jogada foi perfeita e o remate, de primeira, levou a bola ao ângulo superior direito da baliza. Até pareceu fácil. Talvez seja, para ele.

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