Seis líderes da oposição detidos no Bahrein após dispersão dos protestos

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Os primeiros protestos no Bahrein foram pacíficos, inspirados pelos movimentos de revolução que depuseram os chefes de Estado na Tunísia e Egipto Sharif Karim/Reuters

As autoridades do Bahrein intensificaram hoje a repressão sobre o movimento de contestação que o país regista há mais de um mês, com a detenção pelo menos seis líderes da oposição, um dia depois de uma acção repressiva das manifestações da maioria populacional xiita que valeu ao regime do rei Hamad bin Issa al-Khalifa duras críticas por parte do aliado Estados Unidos.

Entre os detidos durante a noite está o líder do partido Haq, Hassan Mushaima, assim como o do partido Wafa, Abdel Wahhab Hussein – ambos tendo encabeçado os protestos que exigem mesmo a deposição da família real do poder.

Mais moderado nas reivindicações, o partido Wefaq (cujos 18 deputados no Parlamento se demitiram pouco após o início da repressão das autoridades aos primeiros protestos), tem limitado as suas exigências à introdução de uma série de reformas políticas e sociais de fundo, incluindo um fortalecimento de poderes do Parlamento e uma reforma do Governo assim como da lei eleitoral.

Igualmente detido pelas autoridades está Ibrahim Sharif, líder do partido secular de esquerda Waad, que alinhou nas reivindicações junto com o Wefaq. “Dois rufias saltaram os muros para entrarem na nossa casa e um deles aproximou-se de Ibrahim e apontou-lhe a arma à cara enquanto o outro obrigou o resto de nós a entrar na garagem. Depois andaram pela casa a partir as coisas”, descreveu a mulher do líder do Waad, Farida Ismail, contactada por telefone pela agência noticiosa britânica Reuters.

As autoridades divulgaram entretanto que estes líderes da oposição foram detidos sob a acusação de “comunicações com países estrangeiros e incitamento ao homicídio”, de acordo com a televisão estatal do país.

O Bahrein enfrenta a mais grave contestação desde a década de 1990 – tendo mesmo levado as autoridades a chamarem ao seu território soldados sauditas e polícias dos Emirados Árabes Unidos (aliados sunitas do Bahrein), numa missão do Conselho de Cooperação do Golfo, para ajudarem a tentar impedir que esta crise se transforme numa revolta.

Duros na avaliação da acção do regime, os Estados Unidos criticaram o “uso excessivo da força” para reprimir os manifestantes. “A força não é a resposta”, avisou ontem a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, instando ambas as partes ao diálogo. Dois dias antes apenas, Washington assumia ainda uma posição dúbia, expressando “compreensão” em relação à decisão das autoridades de pedirem reforços armados aos aliados árabes sunitas – dados os claros receios de que o Bahrein possa cair sob a influência do xiita e não árabe, e não aliado dos norte-americanos, Irão.

Na véspera as forças de segurança do Bahrein forçaram violentamente a dispersão dos últimos resistentes dos protestos que permaneciam acampados na Praça Pérola, em Manamá, há várias semanas. Pelo menos três polícias e três manifestantes morreram nos confrontos, deixando a praça da capital mergulhada num cenário de devastação. Esta manhã, as tropas mantinham um cerco apertado ao local que se tornou símbolo da resistência ao regime, com postos de controlo ao longo da estrada que liga ao distrito financeiro, para onde a contestação chegou na semana passada a tentar expandir os seus protestos.

Residentes descrevem que as ruas de Manamá estão calmas esta manhã mas sob uma profunda tensão, com os soldados em patrulhas numerosas, assegurando o cumprimento do recolher obrigatório decretado na véspera para vasta parte da capital, entre as 16h00 e as 4h00 (locais, menos três horas em Lisboa). Um dia antes o rei declarara o estado de emergência no país por um período de três meses.

A ordem de recolher obrigatório foi já esta manhã diminuída em quatro horas, agora a começar apenas às 20h00 locais, mas apenas para a zona do distrito financeiro da capital.

Os primeiros protestos no Bahrein foram pacíficos, inspirados pelos movimentos de revolução que depuseram os chefes de Estado na Tunísia e Egipto – até que as autoridades lançaram uma operação surpresa, na madrugada de 18 de Fevereiro, para dispersar os manifestantes que se mantinham na Praça Pérola, na capital do pequeno reino árabe, leal aliado dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.

O Governo fez entretanto uma série de concessões à oposição, incluindo a libertação de todos os prisioneiros políticos e suspeitos envolvidos num alegado golpe de Estado para derrubar o rei no ano passado, assim como uma remodelação do Executivo, e a proposta de negociações, sob a liderança do príncipe herdeiro, Salman bin Hamad al-Khalifa. Mas a via das negociações parece agora definitivamente enterrada e toda a oposição, que escapou à vaga de detenções da noite, prepara agora o próximo passo já numa espécie de assumida clandestinidade.

Notícia actualizada às 12h40
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