Primeiro-ministro chinês defende reformas políticas

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Wen Jiabao diz que sem reformas as conquistas económicas dos últimos anos podem perder-se Jason Lee/Reuters

O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, rejeitou qualquer comparação entre a situação política no seu país e o mundo árabe, onde alastra a contestação aos regimes autocráticos, embora insistindo que Pequim deve avançar com reformas políticas – uma declaração que o coloca em dissonância com sectores mais conservadores do regime.

“Temos seguido de perto as turbulências em certos países do Norte de África e do Médio Oriente”, mas “não há qualquer analogia entre a China e estes países”, respondeu o primeiro-ministro, na já habitual conferência de imprensa que se segue ao encerramento da sessão anual da Assembleia chinesa.

Receando protestos idênticos aos registados naquela região e aos tímidos apelos à revolta que circularam na Internet, o regime chinês apertou o controlo sobre os media e deteve inúmeros activistas políticos. Nos últimos anos, tem também investido cada vez mais nos serviços de segurança interna, com os gastos a superarem este ano, e pela primeira vez, os previstos para o sector da Defesa, adiantou o "Financial Times".

Wen reconhece, porém, alguma razão para o descontentamento e, de novo, voltou a defender reformas “institucionais”. “Sem uma reestruturação política a reestruturação económica não será bem-sucedida e os progressos que fizemos perder-se-ão”, avisou. Declarações que o colocam em aparente contradição com o presidente do parlamento, Wu Bangguo, que ainda na semana passada afastou o cenário de reformas políticas, alegando que poriam em causa as conquistas económicas da última década.

Alterações graduais

No entanto, o primeiro-ministro não explicou que reformas tem em mente e sublinhou que qualquer alteração será introduzida “gradualmente”. A BBC sublinha que se tornou habitual dirigentes chineses prometerem um sistema mais “democrático” – e Wen tem sido um dos mais disponíveis a falar sobre o assunto – quando na realidade se referem a meras alterações na organização do sistema que há 60 anos governa o país. Ainda assim, a estação britânica adianta que o primeiro-ministro foi um pouco mais longe, ao admitir eleições directas para alguns níveis da administração. “Se queremos responder aos descontentamentos das pessoas temos que deixar as pessoas supervisionar e controlar o governo.”


Noutro sinal de que está atento aos sinais de contestação, o primeiro-ministro sublinhou a necessidade de desacelerar a subida dos preços, em particular dos bens alimentares. “A inflação é como um tigre, quando se liberta é difícil voltar a pô-lo dentro da jaula”, afirmou, prometendo ainda a “transformação do modelo de desenvolvimento” que combata as crescentes desigualdades económicas.

Wen Jiabao deverá abandonar a chefia do Governo dentro de dois anos e, segundo alguns peritos, estas declarações são um sinal de que pretende deixar a sua marca no legado político do país, acrescenta a BBC.

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