UE prepara-se para pedido de ajuda de Portugal ao fundo de apoio

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O Governo tem resistido a pedir auxílio aos seus parceiros e ao FMI Georges Gobet/AFP

Os países da zona euro estão cada vez mais convencidos da inevitabilidade de um pedido de ajuda de Portugal ao fundo de estabilização financeira, no quadro dos esforços em curso para definir "respostas sistémicas para a crise sistémica do euro".

Esta eventualidade voltou a ser longamente debatida pelos ministros das Finanças da zona euro na sua reunião mensal de segunda-feira à noite. Apesar disso, os Dezasseis do euro, que se debruçaram sobre a questão pela terceira vez num mês, voltaram a não estar completamente de acordo sobre a oportunidade de Portugal seguir os passos da Irlanda, que já pediu uma ajuda de 85 mil milhões do fundo do euro, e da Grécia, que dispõe de um programa específico de 110 mil milhões.

"O sentimento à volta da mesa foi que mais tarde ou mais cedo Portugal vai pedir ajuda", resumiu um dos ministros presentes, mediante anonimato. Outro participante reconheceu de forma velada a existência de pressões sobre Portugal para se colocar preventivamente sob a protecção do fundo do euro, ao reconhecer que "alguns talvez gostassem que um pedido de ajuda venha mais cedo". Mas, frisou Luc Frieden, ministro da Economia do Luxemburgo, "enquanto não for feito um pedido de ajuda, não podemos forçar".

Apesar disso, e de acordo com um diplomata europeu, as grandes linhas do que poderá vir a ser o pacote da ajuda a Portugal já começaram a ser preparadas, de modo a permitir a sua activação rápida caso se torne necessário para travar uma eventual nova escalada de especulação dos mercados financeiros contra os países mais endividados. O ministro português Teixeira dos Santos recusou fazer qualquer declaração à imprensa durante os dois dias em que esteve em Bruxelas.

A posição do Governo foi assim expressa em Lisboa pelo secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina: "Não devemos equacionar o apoio externo para resolvermos os nossos problemas", afirmou à margem do Fórum Investidor, promovido pelo Diário Económico. A pressão dos parceiros do euro sobre o Governo foi particularmente intensa no que toca à realização de reformas estruturais, uma mensagem que foi amplamente martelada durante dois dias. Depois da aprovação do Orçamento do Estado, que permitirá reduzir o défice orçamental de 7,3 por cento do PIB este ano para 4,6 por cento em 2011, "é importante dar substância às medidas de consolidação para alcançar estas metas e concretizar o Orçamento", afirmou Olli Rehn, comissário europeu responsável pela Economia e Finanças.

"Além disso - prosseguiu - é importante que Portugal, como o Governo está a planear fazer, decida e anuncie medidas para melhorar o crescimento económico no país de forma a facilitar a criação de empregos e alcançar as metas" orçamentais, sublinhou. A discussão sobre Portugal enquadra-se num debate mais profundo dos Dezasseis sobre as respostas sistémicas que terão de ser rapidamente definidas para a crise do euro. Dominique Strauss-Kahn, director-geral do FMI, criticou aliás ontem a "resposta fragmentada" que tem sido dada pelos europeus. Uma das medidas em análise é o aumento dos meios do fundo de socorro do euro - 750 mil milhões de euros actualmente -, de modo a sossegar os mercado financeiros sobre a determinação da eurolândia em defender a sua moeda, o que é apoiado por FMI e BCE. "Por enquanto não há qualquer decisão" sobre um aumento, "mas a discussão vai prosseguir", nomeadamente na cimeira de líderes da UE da próxima semana, frisou Didier Reynders, ministro belga das Finanças, que preside à UE.

Olli Rehn acrescentou outra resposta "sistémica" com a realização, em Fevereiro, de uma nova ronda de testes de resistência dos bancos europeus mais dura do que a realizada em Julho a 91 instituições. O exercício incluirá desta vez a situação de liquidez de cada um.

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