Ernâni Lopes, o economista com uma ideia para Portugal

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Ernâni Lopes foi presidente não executivo da PT Lionel Balteiro/ arquivo

Ernâni Lopes, nascido em 1942, licenciou-se em Economia aos 24 anos, começando então uma carreira que o levou a concluir um doutoramento, quase 18 anos depois, quando estava perto de se tornar no ministro das Finanças do Governo do Bloco Central que conduziu o país entre 1983 1985.

Apresentado sempre como economista, Ernâni Lopes acabou no entanto por se evidenciar mais como político, entre 1975 a 1985, onde como chefe da Missão de Portugal Junto das Comunidades Europeias, de 1979 a 1983, negociou as condições em que o país iria aderir, em 1986, à então Comunidade Económica Europeia (CEE), hoje transformada em União Europeia (UE).

Quando estava no Governo, teve de negociar um pacote de ajuda financeira do FMI, assinado em Setembro de 1983, pois o país estava numa situação de pré-insolvência. Em seguida, o Fundo instala-se em Portugal entre Outubro desse ano e Fevereiro de 1985, e Ernâni Lopes aplicou um forte plano de austeridade, que incluiu um corte dos subsídios de Natal dos portugueses, através de um imposto extraordinário.

Antes, tinha tido a sua estreia nas funções de Estado como embaixador de Portugal na Alemanha, entre 1975 e 1979. Casado e com quatro filhos, o economista que ajudou a traçar o nosso caminho na Europa não voltou a ter cargos políticos, se bem que tenha continuado a expressar publicamente as suas posições sobre a vida nacional. Apoiante de Mário Soares (o primeiro-ministro do Governo do Bloco Central que reuniu o PS e o PSD) mas sem filiação partidária, inclinava-se mais para o PSD (foi o mandatário nacional da coligação PSD-CDS, liderada por João de Deus Pinheiro, para as eleições para o Parlamento Europeu, em 2004).

Na sua vertente de académico, Ernâni Lopes foi assistente no ISCEF, da Universidade Técnica de Lisboa, entre 1966 e 1974, e director e professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Católica Portuguesa (desde 1980), onde se doutorou em 1982, e também professor do Instituto de Estudos Políticos da mesma universidade desde 1996. Era também visita assídua de várias instituições militares, onde foi conferencista em vários cursos superiores.

Trabalhou também no Banco de Portugal, de 1967 a 1975, onde dirigiu os seus Serviços de Estatística e Estudos Económicos. Depois da sua experiência no Governo, regressou de 1985 a 1989 como consultor económico.

No domínio empresarial, Ernâni Lopes foi consultor e integrou os órgãos sociais de várias empresas, tendo sido presidente não executivo (chairman) da Portugal Telecom.

Em 1988, lançou uma empresa de consultoria em Geopolítica, Estratégia e Competitividade, a Saer, de que era sócio-gerente, a par com José Poças Esteves. Foi daqui que saiu a ideia de que o investimento na economia do mar podia ser uma forma de ajudar o país a sair da estagnação económica que tem vivido.

No estudo "O Hypercluster da Economia do Mar", encomendado a Ernâni Lopes pela Associação Comercial de Lisboa e que o economista hoje falecido apresentou um pouco por todo o pais nos últimos tempos de vida, defende-se que o vasto conjunto de actividades ligadas à economia do mar se configuram “como, simultaneamente, uma força propulsora e um catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado potencial de crescimento e inovação e capacidade para atraírem recursos e investimentos, nomeadamente externos, de qualidade”.

Ernâni Lopes era muito crítico da situação em que o país caiu na última década, que considerou ser uma década perdida, em que o país se enganou a si próprio.

Notícia actualizada às 13h10
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