Dissidente cubano Guillermo Fariñas termina greve de fome

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Fariñas estava em jejum desde 24 de Fevereiro Yoani Sánchez/Twitpic

O dissidente cubano Guillermo Fariñas, que estava há mais de quatro meses em greve de fome para pedir a libertação de 26 prisioneiros políticos doentes, decidiu parar o protesto, um dia depois de o Governo cubano ter anunciado que irá libertar 52 prisioneiros políticos.

Fariñas foi convencido a parar o protesto por um grupo de dissidentes que o visitou no hospital de Santa Clara, onde está internado e em risco de vida. “Põe fim à greve", anunciou a opositora ao regime de Raúl Castro Gisela Delgado, citada pela AFP.

Inicialmente Fariñas tinha reagido com contenção ao anúncio da libertação de presos políticos. Primeiro disse que só abandonaria o protesto quando 12 prisioneiros fossem libertados. Mas ontem recebeu no hospital o bispo de Santa Clara, Arturo Gonzalez Amador, e disse “esperar a libertação dos cinco primeiros antes de se reunir com os companheiros de luta para tomar uma decisão”, disse à AFP uma dissidente próxima dele, Alejandrina Garcia. Acabou por decidir abandonar o protesto mesmo antes de qualquer libertação.

Fariñas estava a ser muito pressionado para abandonar a greve de fome. Um dos apelos chegou do principal rosto das Damas de Branco, mães e mulheres de prisioneiros, Laura Pollán. “Acredite um pouco”, disse-lhe através da Reuters. “Pare a greve, que é mais valioso vivo do que morto”. A caminho do hospital de Santa Clara estava já o grupo de dissidentes para o convencer a voltar a comer.

O seu protesto tinha começado a 24 de Fevereiro, após a morte de outro dissidente, Orlando Zapata, que esteve mais de 80 dias em greve de fome.

“Uma nova etapa” para Cuba

A libertação de 52 prisioneiros políticos dará início “a uma nova etapa em Cuba”, tinha dito horas antes o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que acaba de regressar de Havana. Para os EUA é “um passo positivo, mas tardio”, nas palavras da secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton.

Não terá sido totalmente inesperado o anúncio, na quarta-feira, de que o Governo cubano irá libertar 52 prisioneiros de consciência, cinco em breve e outros 47 “em três ou quatro meses”. Para trás ficam vários semanas de negociações entre a Igreja Católica cubana e o Governo e, já esta semana, a visita do chefe da diplomacia espanhola com a questão dos prisioneiros políticos na agenda.
Moratinos, Raúl Castro e o arcebispo de Havana, cardeal Jaime Ortega, estiveram reunidos durante mais de seis horas, partilharam refeições e, no fim, a Igreja Católica anunciou que iriam ser libertados os 52 prisioneiros - dissidentes detidos na “Primavera Negra” de 2003, quando o Governo de Fidel Castro ordenou a detenção de 75 opositores.

Moratinos defendeu que “não há razão nenhuma” para que a UE mantenha a posição comum adoptada em 1996 que limita o diálogo dos Estados-membros com Cuba à questão dos direitos humanos. “Isto era o que os meus colegas me pediam, espero que agora respondam ao compromisso”, disse ao "El País".

notícia actualizada às 19h43


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