“Um Profeta” triunfante nos César

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O filme transformou pela segunda vez Audiard em “rei” dos César Victor Tonelli/Reuters

“Um Profeta” foi o grande vencedor dos César, os prémios da Academia Francesa de cinema. Na gala que teve ontem lugar no Teatro de Câthelet, em Paris, o filme de Jacques Audiard, consagrado no Festival de Cannes e nomeado nos Óscares para melhor filme estrangeiro, venceu em nove categorias, incluindo as mais nobres: Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor.

Esta última transformou Tahar Rahim no protagonista de um momento histórico. Na mesma edição dos César, acumulou a distinção de Melhor Actor com a de Melhor Esperança Masculina. Já o prémio de Melhor Actriz foi atribuído a uma lenda da Academia Francesa, Isabelle Adjani, pela professora interpretada em “La Journée de la Jupe”.

“Um Profeta” acompanha o percurso do jovem magrebino Malik El Djebena a partir do momento em que dá entrada na prisão. Desprotegido, iletrado, sem amigos ou família próxima, parece condenado a sofrer a brutalidade e as privações da vida prisional. O filme de Audiard é a história de como, adaptando-se rapidamente ao mundo que o rodeia, Malik passa de presa a predador, de discípulo menorizado a mestre incontestado – a “profeta”.

Nomeado em treze categorias, o filme transformou pela segunda vez Audiard em “rei” dos César. Há quatro anos, “De Tanto Bater O Meu Coração Parou”, animado pelo espírito da Nouvelle Vague e protagonizado por Romain Duris, acabou a gala distinguido em oito categorias, incluindo, tal como agora, as de Melhor Filme e Melhor Realizador. Como ponto em comum entre os dois filmes está Niels Arestrup, o veterano actor francês que, ao receber ontem o prémio de “Melhor Actor Secundário”, agradeceu a Audiard “todo o sangue novo que dá ao cinema francês, isso é importante e inebriante”.

Audiard, por sua vez, aproveitou a presença na cerimónia do Ministro da Cultura francês, Frédéric Mitterrand, para defender acção política na defesa dos emigrantes ilegais, os “sem papéis”. Tahar Rahim, de 28 anos, preferiu o humor: “Alguma vez viram um ‘Beur’ derreter-se?”, lançou ao público no discurso de agradecimento – no dicionário de língua francesa, “beur” significa manteiga; em calão, designa um jovem francês de origem árabe.

“Um Profeta”, também vencedor nas categorias de Melhor Argumento Original, Melhor Montagem, Melhor Cenografia e Melhor Montagem, acumulou um milhão e duzentos mil espectadores em França, tornando-se um sucesso consensual entre o público e a crítica, fenómeno que não se confinou às salas francesas.

Nos Estados Unidos, foi comparado a “Scarface” e a “O Padrinho”, com o Wall Street Journal a classificá-lo como “o mais americano filme do ano”. Por esse prisma, esta cerimónia dos César ofereceu-lhe um bom enquadramento: o César de Melhor Filme Estrangeiro foi para “Gran Torino”, de Clint Eastwood (a filha Kyle recebeu-o em sua representação), e Sigourney Weaver subiu a palco para entregar o César Honorário a Harrison Ford.

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