Morreu Manuel Serra, antigo dirigente do PS

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Manuel Serra aderiu ao PS em 1974, depois de ter liderado o Movimento Socialista Popular Diana Quintela

Manuel Serra, antigo dirigente do PS e do Movimento Socialista Popular e fundador da Frente Socialista Popular, faleceu domingo, vítima de linfoma, com 78 anos de idade. O corpo será velado hoje na Igreja de Arroios, em Lisboa. Amanhã, quarta-feira, às 14h30m, será rezada missa de corpo presente, após o que o cortejo fúnebre segue para o Cemitério dos Olivais, onde será cremado.

Destacado dirigente do PS e um dos protagonistas dos primeiros anos da política portuguesa após o 25 de Abril, Manuel Serra disputou com Mário Soares a liderança do PS, no Congresso de Dezembro de 1974.

Serra era então o homem forte do aparelho socialista, mas acabou perdendo a disputa em pleno conclave, fruto de uma emotiva e decisiva intervenção a favor de Mário Soares proferida por Manuel Alegre, que à época, ainda não era militante do PS.

Manuel Serra funda então a FSP, cuja existência termina, por decisão interna, em 1979. Fiel aos seus ideais revolucionários, Manuel Serra não voltou a ter militância partidária. O antigo dirigente socialista era casado com a advogada Marinela Coelho.

"Perde-se revolucionário convicto e democrata de primeira água"

A morte do histórico do Partido Socialista representa a perda de "um grande português, um convicto revolucionário e antifascista e um democrata de primeira água", declarou hoje Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril.

Destacando que Manuel Serra "arriscou a vida e a liberdade para lutar contra a ditadura fascista em Portugal", Vasco Lourenço afirmou ter perdido "um grande amigo", que conheceu há quase quatro décadas.

"Lembro-me bem do dia em que o conheci, no casamento de um amigo comum, o Avelino Rodrigues, jornalista", evocou o militar de Abril, contando que foi apresentado a Manuel Serra como "um capitão amigo".

"Quando ele ouviu a palavra 'capitão', retirou imediatamente a mão", o que levou Avelino Rodrigues a esclarecer: "Ele é capitão mas é dos nossos, não há problema."

Vasco Lourenço, que planeava então deixar a vida militar, acrescentou: "Sou capitão mas por pouco tempo, porque estou a pensar sair da tropa". A reacção de Manuel Serra foi pronta: "Aguenta aí, porque se és dos nossos ainda nos vais ser útil."

"Estávamos em fins de 72 e ele tinha saído da prisão, depois de estar lá 11 anos, precisamente pelo envolvimento na tentativa de golpe contra a ditadura, a 1 de Janeiro de 62, em Beja", contextualizou.

Surpreendido, Vasco Lourenço perguntou-lhe: "Mas já estás a pensar meter-te noutra?" E ouviu como resposta: "Com mais força do que nunca."

"Ele deu-me ali uma grande lição de determinação na luta pelos ideais em que se acredita", considera o capitão de Abril, lembrando que, após a Revolução dos Cravos, Manuel Serra se envolveu na luta política, "dentro das novas regras da democracia", retirando-se para a vida empresarial "quando constatou que não tinha mais espaço de intervenção directa".

"É este homem, com quem depois fiz amizade, que eu recordo com uma consideração e uma saudade já grandes. É um grande amigo que perco", complementou.

Notícia actualizada às 19h30
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