In Libris é uma livraria, uma editora e um espaço onde se fazem coisas malucas

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A In Libris situa-se num edifício próximo da Rua da Alegria no Porto Adriano Miranda

O local de trabalho de Paulo Gaspar Ferreira é, por vezes, confundido com a sua própria casa. "Há clientes que chegam e perguntam pelo cão", conta Paulo, que não tem uma loja ou uma montra a mostrar o seu trabalho aos transeuntes. Tem um escritório de aspecto acolhedor, recheado de livros, antigos e recentes, no primeiro andar de um discreto prédio no Largo José Moreira da Silva, no Porto.

A indefinição sentida à entrada estende-se ao próprio ofício: "Não é alfarrabista, mas também não é editor", diz a mulher, Paula, companheira de negócio. Talvez um misto, mas não se fica por aqui. Paulo e Paula gerem a In Libris-Sociedade para a Promoção do Livro e da Cultura. Fazem livros. À mão. Na In Libris só há edições limitadas, porque o tempo que os processos artesanais exigem não dá para mais. Houve apenas uma excepção nestes quase 12 anos de negócio: a produção da capa do disco Moonlight, de Maria João Pires, prima de Paulo. Sim, porque nem só de livros vive a In Libris.

A pianista queria uma capa biodegradável, e Paulo Gaspar Ferreira, após algum trabalho para convencer a editora discográfica, deitou mãos ao trabalho e produziu uma caixa com material reciclável e algo ainda menos usual: o encaixe para o CD é uma peça de cortiça, feita numa corticeira, a imitar o formato da lua em quarto minguante.

O problema é que este trabalho nunca poderia ser uma edição limitada. Foram 100 mil caixas para CD feitas à mão, um ano de trabalho. Uma das suas "maluqueiras", termo frequentemente usado por Paulo Ferreira para descrever o trabalho que faz. Mas as "maluqueiras" estão normalmente associadas aos livros. Livros de fotografia ilustrada por texto. É que Paulo, além de "fazedor" de livros, também é fotógrafo, editando muitos dos seus trabalhos através da In Libris. Um exemplo é Penso Sujo, pensado a partir do naufrágio do petroleiro Prestige. Paulo Ferreira fez um trabalho fotográfico a partir do desastre e convidou Carlos Tê para escrever um texto para cada imagem. O resultado foi compilado num estojo de ferro, deixado a enferrujar durante meses para imitar o casco do navio afundado. No interior, um forro separava as fotos do pesado invólucro. Não um forro convencional como os usados em álbuns de fotografia, mas um saco de lixo. "O objectivo era fazer um livro feio", explica Paulo Ferreira.

Foram feitos 1110 exemplares. Mil da chamada "tiragem normal", 100 guardados no dito estojo e 10 de uma tiragem especial, com estojos maiores e as fotos originais. Um CD com sons do mar acompanha todas as edições. Depois, os livros antigos. Paulo Gaspar Ferreira aprendeu com o pai, o alfarrabista Manuel Ferreira, esse ofício de comprar e vender livros antigos. Gostaria de ter uma biblioteca em casa, mas, na impossibilidade, compra os livros e desfruta deles até aparecer um comprador.

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