Prestação da casa volta a descer em Dezembro mas baixa dos juros chegou ao fim

As taxas Euribor estão em queda há 14 meses consecutivos, passando a média mensal da Euribor a seis meses de um máximo de 5,219 por cento (Setembro de 2008) para 0,993 no mês que ontem terminou. Esta taxa, a mais utilizada nos empréstimos à habitação em Portugal, já caiu mais de 80 por cento face ao seu valor máximo, mas é muito provável que o ciclo de descidas se fique por aqui.

Foi esta significativa descida que permitiu que num empréstimo de 150 mil euros, a 30 anos, indexado à Euribor a seis meses, e com um spread (margem do banco que é somada à taxa de referência) de 0,7 por cento, se pagasse em Dezembro do ano passado uma prestação de 804,77 euros. Agora, depois da descida das taxas, esse mesmo empréstimo passará a pagar, a partir da revisão a ocorrer este mês, 531,69 euros. Nos espaço de um ano há, assim, uma redução superior a 270 euros por mês na prestação da casa.

E este empréstimo já tinha tidouma revisão em Junho do corrente ano, altura em que registou a maior redução da prestação, de 804,77 euros para 568,33 euros, ou seja, menos 236,44 euros. Agora, e apesar da média mensal da Euribor a seis meses ter passado de 1,436 por cento para 0,993 por cento, a queda na prestação é de apenas 36,64 euros. Isso explica-se pelo facto de a componente de amortização de capital e do spread (margem do banco) não sofrerem alterações.

Subida só em 2010

Mas a queda das taxas Euribor - fixadas diariamente a partir das operações que os bancos estão dispostos a fazer entre si - deverá ter terminado, podendo assistir-se a um período de estabilização, pelo menos até ao final do ano, a que se seguirá uma subida moderada nos primeiros meses do próximo ano.

O Banco Central Europeu (BCE), que tem a sua taxa de referência em 1,0 por cento (para empréstimos aos bancos), só deverá iniciar uma subida dessa taxa depois do primeiro semestre de 2010, essa é pelo menos a previsão de mais de 30 bancos de investimento inquiridos recentemente pelo Bloomberg. Mas mesmo não mexendo na taxa directora, há medidas que o BCE já admitiu tomar, no curto prazo, que certamente terão reflexo no mercado monetário, onde se fixam as taxas Euribor, e que habitualmente antecipa, em alguns meses, as decisões de política monetária da instituição presidida por Jean-Claude Trichet.

O BCE já admitiu começar a retirar estímulos que concedeu no pico da crise internacional, como o excesso de liquidez (quantidade de dinheiro) que existe no mercado, o que pode acontecer através do fim dos leilões de empréstimos ilimitados aos bancos e ainda através da reintrodução dos spreads aplicados à taxa de referência, margem que foi suprimida nos últimos meses do corrente ano. Na reunião de quinta-feira podem ser dadas indicações mais precisas sobre esta matéria.

Os contratos de futuros sobre taxas de juro também estão a antecipar uma subida das taxas Euribor. O contrato sobre a Euribor a três meses, que vencerá em Junho de 2010, aponta para um valor da taxa ligeiramente acima de 1,0 por cento. A Euribor a três meses fixou-se, na sessão diária de ontem, em 0,719 por cento. E a Euribor a seis meses fixou-se ontem em 0,995 por cento, mantendo o mercado monetário interbancário uma tendência de subida há duas sessões consecutivas.

As perspectivas de crescimento na zona euro, apesar de estarem a subir, continuam a apontar para valores modestos e ainda sem conseguir resolver uma das consequências graves da crise, o aumento do desemprego.

Por este motivo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico defendia, há algumas semanas atrás, que o BCE não deveria subir as taxas de juro em 2010, incentivando dessa forma o investimento.

Inflação volta a subir

Apesar do crescimento ténue da economia na zona euro, esta não é a única preocupação do BCE. A estabilidade dos preços é, aliás, o seu principal objectivo. E se é verdade que até ao momento se receava que a economia poderia viver uma situação de deflação (descida generalizada dos preços), os últimos dados divulgados pelo Eurostat confirmam a tese dos que defendiam que esse temor não tinha razão de ser.

Os números divulgados ontem pelo órgão estatístico da União Europeia dão conta de que a taxa de inflação já começou a atingir variações positivas. Assim, a variação dos preços entre Novembro do ano passado e o mesmo mês de 2009 deverá ter sido de 0,6 por cento, segundo a estimativa rápida do Eurostat. Em Outubro, a variação foi de menos 0,1 por cento. Este foi, aliás, o primeiro aumento em comparação homóloga desde Abril, quando a inflação foi de 0,6 por cento. Em Maio a inflação foi nula, antes de se tornar negativa nos últimos cinco meses.

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