África adere ao dinheiro móvel

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O êxito do M-Pesa no Quénia e de outros operadores nas Filipinas já animou várias operadoras a estenderem os seus serviços financeiros a países em vias de desenvolvimento Pedro Cunha/PÚBLICO

Num continente onde não há multibancos em cada esquina, o telefone faz as vezes de banco. No Quénia, o serviço M-Pesa, da operadora Safaricom, filial da Vodafone, permite aos seus utilizadores receberem e enviarem dinheiro através do telemóvel, um excelente modelo de negócio numa região do mundo onde apenas três em cada dez pessoas têm acesso aos serviços bancários clássicos.

De acordo com o “El País”, o M-Pesa e serviços semelhantes cresceram 200 por cento no último ano e estenderam-se à Zâmbia, Tanzânia e África do Sul, mas também às Filipinas, Paquistão e Afeganistão. Setenta países em vias de desenvolvimento, maioritariamente africanos, impulsionaram a abertura de 54 serviços de “dinheiro móvel”. Estima-se que estes serviços possam chegar aos 120 até ao final do ano.

Em dois anos, o serviço M-Pesa conseguiu atrair seis milhões de clientes, mais do que a população inserida no sistema bancário do Quénia, onde apenas três cidadãos têm acesso aos serviços bancários básicos, mas onde quatro em cada dez pessoas têm um telemóvel. Esta constatação é ainda mais importante se for levado em conta que, nos próximos anos, a penetração do telemóvel em África irá continuar a crescer (agora é de 49 por cento e em 2012 estima-se que venha a ser na ordem dos 60 por cento), adianta ainda o “El País”.

Na semana passada reuniram-se em Barcelona as empresas dedicadas ao negócio do dinheiro móvel – conhecido por MMU (Mobile Money for the Unbanked) – e, para já, apesar da pouca experiência no sector, sabe-se que este modelo de negócio é encarado como uma bênção da tecnologia em diversas regiões africanas, onde os bancos não chegam às zonas rurais (onde vive 70 por cento da população). Os participantes nesta cimeira de Barcelona destacaram, porém, que a expansão destes serviços depende, muitas vezes, das barreiras regulatórias impostas em cada país.

O êxito do M-Pesa no Quénia e de outros operadores nas Filipinas já animou várias operadoras a estenderem os seus serviços financeiros a países em vias de desenvolvimento. De acordo com o “El País”, nas Filipinas, por causa da facilidade destes serviços, 16 por cento dos aderentes já abandonaram os serviços bancários clássicos.

Em todos estes casos, a operadora garante o movimento do dinheiro, sem necessidade de um banco ou de uma conta à ordem. Desta forma o cliente evita a deslocação à agência bancária mais próxima, o que em alguns casos poderá significar uma viagem de várias horas. Mas não é só uma questão de tempo: o “dinheiro móvel” significa menos comissões para os clientes e não tem limite de transferências.

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