"The Times of Harvey Milk”, documentário histórico, vai ser editado em Portugal em DVD

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Ganhe ou não "Milk", de Gus Van Sant, em Los Angeles, nos Oscares, é importante saber-se que o nome de Harvey Milk, o político de São Francisco, homossexual, assassinado em 1978, já antes foi sinónimo de prémios da Academia. Aconteceu em 1984, quando "The Times of Harvey Milk", de Rob Epstein e Richard Schmiechen, recebeu o Oscar para o Melhor Documentário do ano.

Dez anos antes de Tom Hanks, premiado por "Filadélfia", ter pronunciado o seu emocionado e integrador discurso perante a plateia de Hollywood, Epstein e Schmiechen, com os Oscares na mão, homenageavam o primeiro político americano assumidamente homossexual e explicitavam a utopia de uma era "para todos". Fez História. É este documentário que em Março vai chegar a Portugal, em formato DVD (pela Midas).

Em 1984, vivia-se a catástrofe, a sida, e a comunidade "gay" procurava a legitimação no exterior, lutando pelo direito a uma imagem sem estereótipos. É nesse sentido que podemos entender este e posteriores trabalhos de Epstein, como "Common Threads: Stories from the Quilt" (1989), "The Celluloid Closet" (1995) ou "Paragraph 175" (2000). É por isso, aliás, que ver "The Times of Harvey Milk" agora, a seguir a "Milk", não é mero "déjà vu". O documentário estende-se para além da morte de Milk mostrando, coisa de que Van Sant prescindiu, os "riots" que incendiaram São Francisco depois de ser conhecida a decisão que condenou o assassino, Dan White, a apenas sete anos de prisão.

Ver "The Times of Harvey Milk" é ainda, já agora, um exercício lúdico: podemos imaginar o actor Sean Penn durante a sua pesquisa para a personagem, face ao material de arquivo, imagens do "verdadeiro" Harvey Milk (que maneirismos apanhou, que inflexões de voz trabalhou?). Diferencia "The Times of Harvey Milk" e "Milk", para além do que diferencia um documentário de uma ficção, aquilo que neles é reflexo de um tempo. O primeiro falava de um presente, as emoções a quente sobre uma realidade em trágica mutação (foi realizado cinco anos após os acontecimentos que relatava), e isso fez dele um pioneiro; o filme de Gus Van Sant, nostálgico, elabora a partir de uma América que já não existe, eufórica (a América antes da sida), mas redirecciona esse olhar do passado distante para hoje, tempo de mais garantias asseguradas mas a precisar de renovar a utopia. E deixa-se ler como página em branco para todos, não apenas para uma comunidade. O que os une, afinal, é mais importante: um olhar comovido pelas "personagens" e a vontade de querer fazer a diferença no presente.

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