Investigadores lançam em 2009 a maior campanha científica portuguesa na Antárctida

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Sentieiro revelou que está em fase muito avançada de preparação a assinatura do Tratado para a Antárctica Reuters (arquivo)

A partir de Janeiro a comunidade científica portuguesa vai iniciar a maior campanha de sempre na Antárctida, com cinco projectos no continente branco que passam pelo estudo do impacto das alterações climáticas no ecossistema. Esta tarde foi apresentada a campanha e o programa “Nova Geração de Cientistas Polares” que atribuirá bolsas a seis jovens investigadores.

A campanha, apresentada pelo Programa Polar Português – estrutura criada em Dezembro de 2007 no âmbito do Ano Polar Internacional – na Culturgest, em Lisboa, estará no terreno com cinco projectos que vão estudar o permafrost (solo permanentemente gelado), a forma como as espécies se estão a adaptar às alterações climáticas e o oceano Antárctico.

José Xavier, da Universidade do Algarve, vai partir em Fevereiro para a Geórgia do Sul e prepara-se para aí passar dez meses. “Queremos saber como é que o oceano antárctico funciona com as alterações climáticas e a que nível os animais se conseguem adaptar, partindo da cadeia alimentar”, explicou o cientista. “Será um estudo desde a alga à baleia”.

Parte da sua campanha vai decorrer durante o Inverno antárctico. “É nessa altura que se registam as maiores mudanças climáticas mas é um período ainda pouco estudado”, comentou.

Paulo Catry vai para a ilha Falkland estudar albatrozes com a ajuda de sistemas GPS. “Vamos fazer contagens de colónias, monitorizar o sucesso reprodutor dos animais, ver como evoluem as populações”. Actualmente, quase todas as 22 espécies de albatrozes estão ameaçadas.

Seis jovens investigadores mais perto da Antárctida

O Programa Polar Português apresentou ainda o programa “Nova Geração de Cientistas Polares” que, através do financiamento da CaixaCarbonoZero, da Caixa Geral de Depósitos, vai atribuir seis bolsas a jovens investigadores que serão integrados em campanhas internacionais na Antárctida.

“Até agora são poucos os jovens que tinham ido aos pólos. Queremos ampliar a massa crítica e reforçar a participação portuguesa” em projectos polares ligados às alterações climáticas, explicou Gonçalo Vieira, do Programa Polar Português.

As bolsas representam um investimento de 130 mil euros e terão a duração entre um e dois anos.

João Sentieiro, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), revelou que “está em fase muito avançada de preparação a assinatura do Tratado para a Antárctica” por Portugal.

Em Fevereiro de 2007 foi discutida na Assembleia da República uma proposta de adesão de Portugal a esse Tratado, apresentada pelo Partido Ecologista “Os Verdes”.

Segundo João Sentieiro, esta assinatura “facilitará a utilização pelos nossos cientistas das estruturas de outros países, passando a existir uma cobertura institucional para o que actualmente se resume a propostas feitas pelos investigadores a nível pessoal”.

O presidente da FCT reconhece que o trabalho dos portugueses no âmbito do Programa Polar Internacional, que começou em Março de 2007 e termina em Fevereiro de 2009, teve grande influência na decisão do Governo português em assinar o Tratado. “O seu trabalho conseguiu uma grande visibilidade internacional”, salientou.

O Tratado da Antárctida, instituído em 1959, tem como objectivo a protecção do continente gelado do Sul e defende que a sua exploração seja exclusivamente dedicada à paz e à ciência.

Gonçalo Vieira avançou que já está a ser preparado o futuro da comunidade científica polar portuguesa pós-Ano Polar Internacional. João Sentieiro adiantou ao PÚBLICO que deverá ser preparado um programa que dê continuidade ao trabalho já realizado, nomeadamente através de linhas de financiamento específicas.

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