Morte súbita do bebé poderá dever-se a anomalia do desenvolvimento neuronal

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Um bebé em cada 2000 sucumbe antes de fazer um ano, à síndrome de morte súbita Dulce Fernandes

Acontece entre um mês e um ano de vida. Os pais entram no quarto do bebé para o acordar e encontram-no morto no berço. Na autópsia, não é possível identificar qualquer razão para explicar a morte. Conclui-se então que morreu da "síndrome da morte súbita do lactente" (SMSL). Apesar de rara, esta é a primeira causa de morte de crianças com menos de um ano nos países desenvolvidos.

"É um trágico mistério", disse ontem Marian Willinger, especialista norte-americana, em conferência de imprensa telefónica. Mas o mistério poderá finalmente começar a ser desvendado: um artigo hoje publicado na revista "Science" revela que, pela primeira vez, foi possível reproduzir num animal algo de semelhante ao que acontece aos bebés.

A equipa de Cornelius Gross, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular em Monterotondo, Itália, não estudava a SMSL, mas sim os efeitos comportamentais da serotonina, uma substância que permite a comunicação entre os neurónios.

Tinham manipulado geneticamente 15 ratinhos para aumentar a actividade de uma molécula captadora de serotonina que se encontra à superfície dos neurónios do tronco cerebral (a parte do cérebro que faz a ligação com a espinal medula). "Queríamos saber se isso provocava mudanças na ansiedade e agressividade dos animais", disse Gross. "Só que mais de metade morreu muito cedo." Os cientistas constataram que, antes da morte, os ratinhos tinham tido uma quebra do ritmo cardíaco e da temperatura - duas funções vitais controladas pela serotonina.

Já se suspeitava que uma deficiente regulação da serotonina podia ser responsável pela SMSL. Mas Gross e os seus colegas não o sabiam. Foi ano e meio mais tarde, num congresso, que um médico lhes disse que os sintomas dos ratinhos faziam lembrar a SMSL. "Pela primeira vez, mostrámos que perturbações da serotonina podem provocar a morte", disse Gross.

A seguir, tencionam descobrir o que é que desencadeia a "crise" mortal. Talvez um excesso de CO2, como quando os bebés dormem com a cabeça tapada ou de bruços?

Apesar de a síndrome no ratinho poder não ser idêntica à forma humana, Gross espera identificar "marcadores biológicos que permitam avaliar o risco de morte". A partir daí, acredita que a solução passará por desenvolver estratégias de prevenção eficazes - e não medicamentos - contra a SMSL.

Willinger concorda e acrescenta: "Podemos dizer aos pais que perderam um bebé que a SMSL é uma doença do desenvolvimento neuronal. É uma verdadeira doença e eles nada poderiam ter feito para a impedir."

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