União Europeia ameaça China com barreiras alfandegárias

O comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, avisou hoje que a China poderá enfrentar barreiras à entrada de produtos chineses na Europa caso Pequim não tome medidas para reduzir o excedente comercial com a União Europeia (UE).

O aviso de Mandelson, hoje publicado no jornal Financial Times, chega poucos dias antes da Cimeira UE-China, que decorre em Pequim a 28 de Novembro, e na qual a delegação europeia presidida por José Sócrates vai pressionar a China para que tome medidas para reduzir o défice comercial europeu de forma rápida e eficaz.

Segundo o jornal, Mandelson afirmou que Bruxelas poderá ser obrigada a tomar medidas "anti-dumping" em defesa do seu mercado, caso Pequim não consiga reduzir o défice comercial.

Mandelson, que inicia no sábado uma visita de seis dias à China, considerou esse défice comercial "insustentável", devido ao facto de este crescer a um ritmo de 15 milhões de euros por hora.

"Nos seis dias que vou passar na China, o défice vai aumentar cerca de dois mil milhões de euros. Isso é o que eu chamo de insustentável. Existem verdadeiras questões de acesso ao mercado chinês, protecção legal, bem como o resto dos temas com que estamos a lidar - falsificações e exportações de bens falsificados", disse Mandelson, em entrevista ao Financial Times.

As declarações do comissário reflectem a tendência actual nas relações económicas entre Bruxelas e Pequim, em que a UE vem tomando atitudes cada vez mais vigorosas para a redução do défice, com Mandelson a dizer que o governo chinês precisa de reduzir as barreiras não-tarifárias à entrada de produtos europeus e a legislação que discrimina as empresas da União Europeia.

"Quando lhes falamos de acções, eles respondem-nos com feiras comerciais e promoção do investimento... Eu quero acções reais e sustentadas para resolver os problemas", afirmou.

"A Europa está a abrir-se mais à China, mas eu não posso suster isso sem que a China mostre a mesma abertura em relação a nós", acrescentou o comissário, avisando que a pressão sobre a Comissão Europeia poderá aumentar caso a China não tome medidas de redução do défice.

A China deveria também "gerir a melhor a sua divisa", o “reminbi”, para seu próprio bem e para reduzir o seu excedente comercial, disse Mandelson.

A UE queixa-se de que, a juntar às dificuldades de entrada no mercado chinês, as empresas europeias têm de enfrentar um “reminbi” que Pequim mantém a um nível artificialmente baixo, o que, segundo Bruxelas, contribui para um défice que foi de 86 mil milhões de euros só nos primeiros sete meses de 2007.

Desde meados de 2005, o “reminbi” perdeu 12,5 por cento contra o euro, a moeda europeia.

Caso a China não apresente resultados, disse Peter Mandelson ao Financial Times, Bruxelas poderá mesmo ter de impor tarifas "anti-dumping" (quando o mercado importador considera que os bens entram no mercado abaixo do custo de produção porque beneficiam de subsídios) e, no limite, apresentar queixa à Organização Mundial de Comércio.

Segundo dados comunitários, o bloco dos 27 países registou em 2006 um défice de 130 mil milhões de euros, que aumentou 25 por cento só nos primeiros oito meses de 2007.

A manter-se o padrão actual de crescimento, segundo a Comissão Europeia, o défice deverá atingir os 170 mil milhões de euros até ao final do ano.

Do lado europeu, o défice comercial deverá ser o tema mais dramático com que Sócrates, o presidente da Comissão Europeia Durão Barroso e o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao terão de lidar.

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