Petroleiro privado será o primeiro a combater marés negras no país

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Se o acidente com o petroleiro Prestige fosse hoje, Portugal estaria mais bem equipado para se proteger da ameaça que na altura pairou sobre o litoral. O país tem agora um navio para fazer frente a marés negras, com bandeira e tripulação portuguesa. Mas não é da Marinha, que ainda aguarda dois navios prometidos por sucessivos governos. A embarcação é privada e, embora baseada em Sines, está a serviço da Agência Europeia de Segurança Marítima. Ironicamente, trata-se de um petroleiro.

O Galp Marine - da empresa Fresti e fretado pela Galp - fez a sua estreia pública ontem, num exercício da agência europeia e da Marinha, ao largo de Sesimbra. Combater marés negras não é a sua vocação principal. O Galp Marine opera entre Sines e Lisboa, abastecendo de combustível outros navios. "É uma estação de serviço ambulante", afirma António Sousa Nunes, da Galp Energia.

A sua passagem para o ramo da poluição deu-se através de um concurso da Agência Europeia de Segurança Marítima, que queria mais três novos navios para dar apoio a acidentes.

Através de barreiras flutuantes, braços laterais e bombas de sucção, o navio pode recolher até 3000 toneladas de petróleo ou derivados. E está especialmente capacitado para combustíveis pesados, como o que o Prestige transportava, quando se partiu em dois e se afundou ao largo da Galiza, em Novembro de 2002.

Pipocas em vez de petróleo

No exercício de ontem, a ameaça de poluição foi simulada com uma alternativa insólita: pipocas. "Têm um comportamento semelhante ao dos hidrocarbonetos", explicou o comandante Velho Gouveia, do Serviço de Combate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos, da Marinha.

Muitas escaparam ao cerco das barreiras flutuantes puxadas por dois rebocadores. Atrás, seguia o Galp Marine, com os braços laterais abertos para recolher as pipocas concentradas pelas barreiras.

O contrato com a agência europeia implica a disponilibidade permanente do navio. A Galp pode continuar a utilizá-lo normalmente, mas, em caso de um acidente de poluição, o navio tem de preparar-se, em 15 horas, no máximo, para seguir para o local da maré negra. A agência europeia já tem contratos com nove navios, e dois novos deverão ser anunciados em breve. Há permanentemente dois de plantão no Báltico, dois no Atlântico e dois no Mediterrâneo. Se um Estado-membro solicita ajuda à agência, uma das embarcações é imediatamente mobilizada. Possivelmente, o Galp Marine teria sido accionado no caso do Prestige, se já estivesse em operação.

Navios atrasados

Os prometidos navios de combate à poluição da Marinha, porém, continuam apenas no papel. Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo ainda estão a construir os dois primeiros navios de patrulha oceânica - os "patrulhões" - de um lote de oito que substituirão as antigas corvetas da Marinha. Os navios foram encomendados em 2002 e deveriam estar prontos no ano passado. Agora, o prazo é finais de 2008 ou princípio de 2009, segundo a assessora de imprensa do Ministério da Defesa, Inês Rapazote.

Só depois de concluído o primeiro "patrulhão" é que começará a ser construído o primeiro navio de combate à poluição.

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