Revolução digital começou há 25 anos com o lançamento do PC da IBM

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O trunfo do PC da IBM era ter uma arquitectura aberta AFP

Caro, lento e bege, evidentemente. Com um ecrã de fundo negro onde as letras apareciam a verde fluorescente. Era assim o primeiro PC, que a IBM lançou faz hoje 25 anos. Chamaram-lhe PC 5150, uma máquina que não terá sido revolucionária do ponto de vista tecnológico, mas que criou uma norma e, assim, um novo mercado.

Os responsáveis da maior empresa de tecnologias tinham resolvido juntar os processadores da Intel e o sistema operativo da Microsoft, jovem empresa liderada pelo também jovem Bill Gates, então com 25 anos (ver texto na página ao lado). Levaram toda a indústria atrás. Nesse Agosto de 1981, seria muito difícil imaginar que hoje existiriam nas secretárias de todo o mundo cerca de mil milhões de descendentes daquela máquina.

Foi só há 25 anos, dirão alguns, mas 25 anos podem ser pré-história quando se fala de informática. Hoje, recordar as características do primeiro PC leva-nos a perguntar para que é que serviria.

Não tinha disco rígido e a memória limitava-se a 16 kilobytes, o espaço que ocupa um texto com poucas centenas palavras. Hoje, as canetas de memória que se trazem no bolso têm, pelo menos, 256 megabytes - e um megabyte são 1024 kilobytes. O processador era o 8088 da Intel, com uma velocidade de 4,77 megahertz, um triciclo ao lado do avião que são hoje os processadores de 3 gigahertz de qualquer computador médio. E o sistema operativo era o DOS 1.0, da Microsoft (nada de janelas, por enquanto).

Só o preço não deixava o PC 5150 envergonhado ao lado de uma máquina de topo de gama actual. Custava 1565 dólares, mas nem isso impediu a IBM de superar num mês as vendas que tinha previsto para cinco anos, na ordem dos 241 milhões de dólares.

Três anos depois, em 1984, a IBM tinha já vendido 250 mil PC. No ano anterior, a revista Time substituíra a tradicional figura do ano pela nova máquina da IBM. A ajudar ao sucesso estava também uma divertida campanha de marketing com a figura de Charlie Chaplin.

A história do PC começa em Setembro de 1980, quando os responsáveis da IBM deram luz verde a Bill Lowe, director da fábrica de Boca Raton, na Florida (EUA), para organizar uma pequena equipa, de 12 pessoas, e desenvolver "a máquina que todos querem". Lowe considerou que precisava de um ano para lançar a máquina e não se enganou.

A equipa acabou por ser gerida por Don Estridge, a quem coube uma decisão fundamental para o sucesso do PC. Cedo percebeu que, para cumprir prazos, o melhor seria procurar no mercado tecnologia já testada e optar por uma arquitectura aberta. E foi assim que, na altura prevista, Estridge apresentou o primeiro IBM PC, em Nova Iorque.

Em Portugal, a apresentação do PC foi feita com um espectáculo no Casino do Estoril. Mas só algum tempo depois do lançamento do PC 5150 é que se começou a ouvir falar da nova máquina por cá, explica Mário Brandão, hoje analista de mercado da Lenovo, empresa à qual a IBM vendeu a sua divisão de PC, no ano passado. Tinha entrado para a IBM em Março de 1981, cinco meses antes da chegada do PC, e foi trabalhar para a divisão de sistemas de entrada, que era responsável pelos computadores pessoais.

Um negócio florescente?

A propósito do aniversário do PC, a revista The Economist recordou que a maior fabricante de computadores, a Dell, anunciou no mês passado resultados que remeteram as suas acções para o valor mais baixo dos últimos cinco anos. A Intel, por sua vez, procura ganhar a quota de mercado que, nos últimos tempos, tem perdido para a sua principal concorrente, a AMD. E a própria Microsoft anunciou que irá comprar cerca de oito por cento das suas acções, por cerca de 20 mil milhões de dólares.

Quanto à IBM, vendeu a sua divisão de PC à chinesa Lenovo no ano passado. A venda permitiu à Big Blue um encaixe na ordem dos 650 milhões de dólares, mais 600 milhões de dólares em acções da Lenovo. A divisão de PC da IBM tinha então um passivo na ordem dos 500 milhões de dólares, pelos quais a Lenovo também se responsabilizou.

David Bradley, um dos 12 engenheiros que fizeram parte da equipa que desenvolveu o primeiro PC, não escondeu numa entrevista recente ao Guardian uma certa desilusão pelo facto de a IBM ter abandonado o negócio dos computadores pessoais. "Mas como accionista da IBM, penso que terá sido uma decisão extremamente sensível", disse.

Depois de 28 anos a trabalhar na IBM, Bradley tem agora 57 anos, está aposentado e recorda aqueles dias de 1981 com muito entusiasmo. "Estive lá quando o PC era apenas um vislumbre e é um privilégio falar hoje nisso", considerou. Ao adivinhar a pergunta seguinte, concluiu: "E não, não invejo o Bill Gates."

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