Condoleezza Rice promete política externa baseada na diplomacia

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Rice prometeu aumentar a pressão contra o que designou de "postos avançados da tirania" Gerald Herbert/AP

A secretária de Estado norte-americana indigitada, Condoleezza Rice, prometeu hoje desenvolver uma política externa que privilegie a diplomacia, promotora da democracia a nível global, mas sem complacência para com o que classificou de "postos avançados da tirania".

"Chegou o tempo da diplomacia", declarou Rice perante a Comissão de Relações Externas do Senado norte-americano, na audiência destinada a confirmar a sua nomeação para suceder a Colin Powell, que não transitará para o segundo mandato de George W. Bush, que começa depois de amanhã.

Rice quis afastar o rótulo de "falcão" da actual Administração, garantindo que a "interacção dos EUA com o resto do mundo deve fundar-se no diálogo e não num monólogo".

Contrariando os que a acusam de se ter mantido, nos últimos quatro anos, ao lado do Pentágono na promoção de uma política unilateral, a futura chefe da diplomacia norte-americana insistiu que "as alianças e as instituições multilaterais podem multiplicar a força dos países que amam a liberdade". "A NATO, a União Europeia e os nossos aliados democráticos na Ásia e em outras partes do mundo serão os nossos principais parceiros", insistiu.

Segundo Rice, o principal objectivo destas alianças deve ser a promoção da democracia no mundo e a continuação da luta contra o terrorismo desencadeada pela actual Administração. "Devemos reforçar a comunidade das democracias na luta contra as ameaças à nossa segurança comum" e trabalhar "para expandir a democracia no mundo" — "é essa a missão que o Presidente Bush fixou para a América e para o mundo; é essa a missão da diplomacia americana".

Nesse sentido, a responsável prometeu aumentar a pressão em relação "aos postos avançados da tirania", citando os casos de Cuba, Birmânia, Coreia do Norte, Irão, Bielorrússia e Zimbabwe — uma fórmula que relembra o célebre "Eixo do Mal" enunciado em 2002 por Bush, formado por Irão, Iraque e Coreia do Norte.

"A América está ao lado dos povos oprimidos de cada continente. Não recuaremos enquanto as pessoas que vivem nas 'sociedades do medo' não tenham alcançado a liberdade", declarou.

Rice recusa-se a definir calendário para retirada militar do Iraque

Pressionada pelos senadores democratas a pronunciar-se sobre as opções adoptadas pela Administração em relação ao Iraque, Condoleezza Rice admitiu que os EUA cometeram alguns erros de avaliação, apesar de sublinhar que a resposta estratégica do Presidente aos atentados de 11 de Setembro — incluindo as guerras no Afeganistão e Iraque — foi "difícil, mas necessária e correcta".

Questionada sobre o calendário para a retirada militar do Iraque, a responsável recusou-se a apontar uma data, afirmando que a partida dos soldados irá depender da situação de segurança no terreno. "O nosso objectivo é cumprir a missão" definida, afirmou Rice, sublinhando que a actual prioridade "é garantir a segurança das eleições de 30 de Janeiro".

A sucessora de Powell revelou que 120 mil recrutas iraquianos já concluíram a sua formação — um número que foi contestado pelos democratas —, mas admitiu que os efectivos treinados são insuficientes e estão mal equipados e mal organizados para garantir a segurança no país.

Médio Oriente enfrenta "oportunidade única"

A ex-conselheira para a Segurança Nacional dos EUA prometeu ainda envolver-se pessoalmente nas negociações para a paz no Médio Oriente. Rice classificou a eleição de Mahmoud Abbas para a presidência da Autoridade Palestiniana como "uma oportunidade única" para pôr fim ao conflito e garantiu que irá trabalhar com os dirigentes de ambos os lados.

Questionada pela comissão do Senado, a futura secretária de Estado admitiu ainda a possibilidade de George W. Bush nomear um enviado especial para a questão palestiniana, desde que isso "seja considerado adequado" por todas as partes envolvidas.

Quanto às relações com a Rússia (terreno em que se especializou, falando fluentemente russo), Rice fez um balanço crítico da estratégia seguida pelo Presidente Vladmir Putin, ao afirmar que "o caminho da democracia na Rússia tem sido acidentado e o seu sucesso ainda não está garantido".

Rice, que será a primeira mulher negra a assumir a chefia da diplomacia norte-americana, aproveitou a audição pública para lembrar o movimento pelos direitos cívicos liderado por Martin Luther King — "a quem posso agradecer por hoje estar aqui". Neta de um agricultor pobre de algodão, Rice cresceu no Alabama quando este estado era ainda um dos bastiões do segregacionismo racial nos EUA.

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