LuzBoa 2004: as cores de uma bienal

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A LuzBoa é uma iniciativa do Instituto Franco-Português e da associação cultural ExtraMuros DR

A LuzBoa-I Bienal da Luz em Lisboa é hoje formalmente inaugurada - a honra cabe ao fotógrafo Luís Campos, que coloca no Largo do Teatro São Carlos a instalação "Limbo". A LuzBoa é uma iniciativa do Instituto Franco-Português e da associação cultural ExtraMuros, em parceria com a câmara municipal, e termina oficialmente a 4 de Julho, embora tenha iniciativas que se prolongarão.

Também hoje é divulgado publicamente o vencedor do Prémio LuzBoa-Schréder, que deverá ser entregue ao arquitecto João Luís Carrilho da Graça. No valor de 10 mil euros, o prémio distingue a carreira de uma personalidade cuja obra revela um domínio exemplar no tema da luz. A lista de nomeados incluía o arquitecto Álvaro Siza Vieira, o físico João Magueijo, o fotógrafo Jorge Molder e o designer/músico João Paulo Feliciano.

Mário Caeiro, director da ExtraMuros, releva as dificuldades: "É a primeira vez que se faz algo do género em Portugal", algo que "implica uma grande interacção com o espaço público". A LuzBoa "mexe com o fluxo de pessoas, de segurança, das instalações". Para além disso, existem os obstáculos de uma mostra com dezenas de actividades que "mexem também com o político" - e tem que existir "uma grande negociação com os criadores". Há muitas autorizações a serem pedidas e, por exemplo, apenas na quinta-feira chegou a luz verde para instalação de Ron Haselden ("Fête") em forma de tenda na Estação Fluvial de Belém.

A co-existência com o Campeonato da Europa de Futebol foi propositada, mas trouxe problemas, pois perdeu-se a possibilidade de utilizar vários eixos e houve necessidade de adaptação aos novos fluxos humanos. As expectativas dos lisboetas estavam muito viradas para o futebol. Por exemplo, no que toca aos eléctricos vestidos de luz pelo bretão Yann Kersalé, quais as reacções de populares que viram as montagem? "Pensavam que eram representações de redes das balizas de futebol." Aliás, este é um projecto que esteve em perigo devido aos elevados honorários pedidos por Kersalé, que acabaram por ser assumidos pela patrocínio da empresa Philips. Os "amarelos" (carreiras 12, 28, 18 e 25) circulam iluminados a partir da noite de hoje.

As "Bellas Sombras", de Frédérique de Gravelaine e Virginie Nicolas, intervenções em árvores relevantes em alguns jardins e miradouros de Lisboa, esbarraram num problema no Jardim do Príncipe Real: soube-se recentemente que a árvore que ia ser a "estrela" está gravemente doente, em estado terminal, e com uma característica que torna impossível a sua utilização - não pode receber luz. Espera-se agora a escolha de uma outra árvore.

Houve algumas alterações no programa oficial já distribuído. Uma delas foi a anulação da produção independente "Enigmas de Luzes", para o Museu de Ciência. "Cidade Iluminada", a mostra de trabalhos originais concebidos para a bienal por Sancho Silva, João Maria Gusmão e Pedro Paiva, na Galeria Zé dos Bois, conta agora com mais um nome: João Tabarra.

O orçamento para a LuzBoa 2004 rondará, segundo Mário Caeiro, um milhão de euros. A câmara municipal suporta metade dos custos. Uma estimativa anteriormente avançada referia dois milhões de euros, mas destes um milhão seria exclusivamente destinado a um grande projecto de intervenção na Ponte 25 de Abril, que entretanto foi abandonado, em parte devido ao elevado custo e em parte ao facto de ter que se pedir autorização a oito entidades oficiais.

Lisboa cidade-luz

A bienal deverá ser um ponto de partida para a capital portuguesa integrar a rede internacional de cidades-luz (com 34 cidades, entre as quais Rabat, Pequim, Turim, Lyon ou Glasgow). O director da ExtraMuros destaca que se trata aqui essencialmente de um diálogo entre municípios - a câmara lisboeta terá respondido de modo afirmativo ao repto e já começou os contactos com a associação para a sua integração. O primeiro fruto destes contactos foi o apoio que o Festival de Árvores de Natal de Genebra já proporcionou à exposição "Undae", de Daniel Schlaepfer, na cisterna da Casa do Fado.


No LuzBoa centro, no alto do Parque Eduardo VII, decorre o "Luzes, Câmara.. Martini". A empresa de bebidas convidou cinco artistas para criarem obras, em qualquer suporte, que se relacionassem com o universo Martini, desde logo os anúncios de televisão e o uso que fazem da cor - e escolherá um vencedor. Ron Haselden decidiu apresentar no parque "Family Idea", ampliações de desenhos de crianças do bairro da Cova da Moura, mas a ideia inicial foi ultrapassada pela boa recepção naquele bairro degradado da Amadora, e agora juntam-se à mostra "workshops" de dança e música africana.

É dentro desta noção de interacção e formação que se situa uma das "Antevisões", que Mário Caeiro define como "os projectos que exigem maior articulação intermunicipal e interinstitucional". A primeira antevisão refere-se à iluminação de arcos de Alfama (entre a Rua dos Bacalhoeiros e a Rua Terreiro do Trigo) pelos participantes no atelier "Fazer Céus". A outra é a iluminação do Aqueduto das Águas Livres, segundo um conceito da checa Magdalena Jetelova, habituada a trabalhar em mega-escalas, que pretende reanimar o velho monumento, pô-lo a comunicar com a cidade. Trata-se de uma ideia a ser continuada após a LuzBoa, em princípio com o apoio do Centro Cultural de Belém.

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