Estudante norte-americano encontrou o maior número primo

Michael Shafer, um estudante norte-americano de engenharia química de 26 anos, acaba de entrar para a história da matemática, ao encontrar o maior número primo conhecido até ao momento. O novo número é composto por 6.320.430 algarismos, noticia a revista de divulgação científica britânica "New Scientist". Esta não é a única novidade: é também o 40º número primo de Mersenne conhecido.

Os números primos são divisíveis apenas por 1 e por si próprios. Assim, 2, 3, 5, 7, 11, e por aí fora, são números primos. Por exemplo, 10 não é um número primo, porque é também divisível por 2 e 5.

Um número primo de Mersenne é uma forma rara de número primo: tem a forma de 2 elevado a P menos 1, em que P é um número primo. Assim, os primeiros números primos de Mersenne são 3, 7, 31, 127, e por aí fora. Mas não se conhecem muitos, apenas 40, que devem o nome a Martin Mersenne (1588-1648), monge franciscano e matemático francês que estudou estes números no século XVII. O novo número primo de Mersenne é dois elevado a 20.996.011 menos 1.

Os números primos tem usos práticos: por exemplo, fornecem chaves criptográficas, de forma a manter as comunicações na Internet seguras. Apesar da sua importância, os matemáticos não entendem como é que os números primos se distribuem, o que torna difícil a identificação de novos.

Como é que Michael Shafer encontrou o novo número primo de Mersenne? Usou o computador na Universidade Estadual do Michigan para participar num projecto chamado Great Internet Mersenne Prime Search (GIMPS), que começou em Janeiro de 1996 e tem mais 60 mil voluntários em todo o mundo. O GIMPS conta com mais de 200 mil computadores, como os que temos em casa e no trabalho, que são usados para procurar novos números de Mersenne, diz a página na Internet do projecto, no endereço http://www.mersenne.org .

À semelhança do GIMPS, há outros projectos, como o SETI@home, em que cada participante recebe no computador pessoal um bocadinho dos dados recolhidos no radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, e cruza os dedos para ser o feliz contemplado por ter descoberto comunicações extraterrestres.

Muitos juntaram-se ao GIMPS só pelo gozo de encontrar um novo número de Mersenne - e o projecto já identificou seis -, mas pode haver quem ganhe dinheiro. A Fundação para a Fronteira Electrónica oferece 100 mil dólares (quase o mesmo em euros) à primeira pessoa ou grupo de pessoas que encontrem um número primo com dez milhões de algarismos. Em Maio de 2000, um participante ganhou 50 mil dólares por ter descoberto o primeiro número primo com um milhão de dígitos.

Michael Shafer ainda não é o felizardo, mas foi notícia em todo o mundo nos últimos dias. A descoberta é de 17 de Novembro, mas só agora foi confirmada, de forma independente, por Guillermo Ballester Valor, de Granada (Espanha), e Ernst Mayer, de Cupertino (Califórnia, EUA). "Tinha acabado uma reunião com o meu orientador, quando vi que o computador tinha encontrado o novo número primo. Depois de uma pequena dança de vitória, telefonei à minha mulher e amigos envolvidos no GIMPS para partilhar a grande novidade", contou Shafer.

Para Marcus du Sautoy, matemático da Universidade de Oxford, Inglaterra, e um dos autores do livro "The Music of the Primes", a descoberta de um novo número primo não deverá acrescentar nada de novo à compreensão de como estes se distribuem. Mesmo assim, diz que não deixa de ser significativa. "É uma boa medida das nossas capacidades computacionais. É um projecto engraçado. Cada pessoa recebe um bocadinho do universo dos números para analisar. É um pouco como a lotaria."

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