Morreu o ex-director do Departamento de Educação Básica

O ex-director do Departamento de Educação Básica (DEB), Paulo Abrantes, morreu anteontem em Lisboa, aos 50 anos, vítima de doença prolongada. "É o desaparecimento de uma pessoa muito importante para a educação", reagiu a deputada socialista Ana Benavente que, enquanto secretária de Estado da Educação, tutelou o DEB.

Paulo Abrantes nasceu em Lisboa, em 1953. Licenciou-se em Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), em 1977, e doutorou-se em Educação dezassete anos depois, com distinção e louvor, à boleia de uma dissertação sobre a relação dos alunos com a Matemática. Foi professor do ensino secundário até 1982, ano em que deu o salto para o departamento de Educação da FCUL. Leccionou ainda nas Universidades dos Açores e da Madeira e orientou teses de mestrado e doutoramento.

Em 1986, Paulo Abrantes esteve na base da fundação da Associação de Professores de Matemática (APM), a que presidiu nos dois anos seguintes. Foi autor de manuais escolares de Matemática e de um sem-número de publicações na área da Educação.

Já depois de ter integrado o Conselho Nacional de Educação (1990/93) e o Conselho Científico do Instituto de Inovação Educacional (1998/99), foi convidado pela equipa de Marçal Grilo para liderar o DEB, sucedendo assim a Teresa Vasconcelos em Fevereiro de 1999.

O nome do ex-director do DEB ficará inevitavelmente ligado à reorganização do ensino básico. As aulas de 90 minutos nos 2º e 3º ciclos, a gestão flexível do currículo e a criação de um espaço de estudo acompanhado são apenas alguns dos conceitos que levam a assinatura de Paulo Abrantes. Em 2001, num seminário em Viana do Castelo, Abrantes sintetizou numa frase o cunho que pretendia imprimir ao ensino básico: "Uma formação de base para todos, com qualidade das aprendizagens".

Em Maio do ano passado, pouco mais de um mês depois de David Justino ter tomado posse como ministro da Educação, Paulo Abrantes pediu a demissão do cargo. Alegou "falta de apoio político" da nova equipa ministerial e acabou por ser substituído por Vasco Alves, que fora chefe de gabinete de Marçal Grilo entre 1995 e 1999.

Ana Benavente, que desempenhou o cargo de secretária de Estado da Educação até 2001 e, por isso, trabalhou directamente com Paulo Abrantes, considerou ontem ao PÚBLICO que "Portugal tem uma grande dívida" para com o ex-director do DEB. "Recebi com muita tristeza a notícia do desaparecimento de uma pessoa muito importante para a educação. Era um homem muito trabalhador, com uma capacidade de comunicação espantosa e com imensas qualidades", afirmou a agora deputada socialista.

Na opinião de Ana Benavente, "são raros os professores universitários dispostos a investir tanto como investiu Paulo Abrantes numa área tão importante como é a educação básica".

Fernando Nunes, presidente da APM, recordou "o trabalho aturado" desenvolvido por Paulo Abrantes no seio daquela associação. "Sempre se empenhou muito no debate e na reflexão sobre o ensino da Matemática. A APM não pode ser considerada obra de uma única pessoa, mas Paulo Abrantes desempenhou um papel único", comentou.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Educação fez saber que a notícia da morte de Paulo Abrantes deixou "abalado" David Justino. "O senhor ministro lamenta muito esta morte, já apresentou condolências à família mas não faz mais comentários", adiantou uma fonte ministerial.

A partir do meio-dia de hoje, o corpo de Paulo Abrantes estará em câmara ardente na Igreja do Campo Grande. As cerimónias fúnebres têm lugar amanhã, às 09h00, seguindo o féretro para o cemitério do Alto de S. João.

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