José Calvet de Magalhães é hoje homenageado no Centro Nacional de Cultura

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Celso Lafer, será hoje um dos participantes num debate sobre a carreira de diplomata e a obra de historiador do embaixador José Calvet de Magalhães, o decano dos embaixadores portugueses e presidente do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais (IEEI), de Lisboa.

José Calvet de Magalhães, que ingressou na carreira diplomática em 1941 para apenas a abandonar mais de 40 anos depois, quando Portugal era já membro de pleno direito da Comunidade Europeia, é hoje figura incontornável da diplomacia portuguesa — porque participou em muitas da negociações cruciais da política externa portuguesa desde o pós-guerra até ao pós-25 de Abril; porque a visão internacionalista e europeia, que sempre assumiu mesmo quando ser europeísta e internacionalista era ir contra a corrente dos tempos, fazem dele um caso singular.

As suas obras como historiador e como ensaísta são um contributo fundamental para a história diplomática portuguesa, sobretudo no que se refere às relações de Portugal com os Estados Unidos e com o Brasil. As que dedicou à reflexão sobre a actividade diplomática (como “DiplomaciaPpura”, “Manual Diplomático” ou “Diplomacia — Doce e Amarga”) revelam uma concepção da diplomacia que, como escreveu Álvaro de Vasconcelos, director do IEEI, “é a arte da paz, que se exerce pela procura do compromisso, pela valorização da tolerância e a força persuasiva dos estímulos, pela procura de regras e de referências comuns”.

Estas linhas podem ler-se no primeiro volume de uma recolha de textos, incluídos num livro intitulado “José Calvet de Magalhães — Humanismo Tranquilo”, que vai hoje servir de base ao debate sobre a sua carreira diplomática, a partir das 18 horas, no Centro Nacional de Cultura. O livro resulta de uma iniciativa do IEEI e do Instituto Diplomático. Cada uma das contribuições que o integram versa uma das múltiplas questões da política externa em que o embaixador teve uma influência directa ou uma das facetas da sua actividade de ensaísta.

José da Silva Lopes e Andresen Leitão escrevem sobre as negociações da criação da EFTA. O embaixador Gregório Faria sobre as relações de Portugal com os EUA e Celso Lafer sobre as relações com o Brasil. Guilherme d’ Oliveira Martins sobre a “arte do biógrafo” que foi também o embaixador, ao descrever as figuras que protagonizaram os grandes acontecimentos da História, desde Tucídides ao Presidente Wilson, de Júlio César a Metternich ou Bismark. Álvaro de Vasconcelos faz, no texto já referido, uma viagem pela “diplomacia de valores” que norteou a sua actividade. O embaixador Fernando Castro Brandão, presidente do Instituto Diplomático, traça o seu percurso de diplomata.

O livro integra ainda um artigo assinado pelo próprio Calvet de Magalhães sobre uma das questões para cuja compreensão mais contribuiu — o euro-atlantismo, que sempre considerou a orientação fundamental da política externa portuguesa. A Calvet de Magalhães pertence o mérito raro de ter sido um dos primeiros diplomatas portugueses a perceber e a defender a importância estratégica da integração europeia no pós-guerra e a aproximação de Portugal à Europa.

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