Vitória histórica coloca oposição de Kibaki no poder no Quénia

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A vitória do Arco-Íris já é festejada Pedro Ugarte/AFP

O principal líder da oposição queniana conseguiu uma vitória histórica nas eleições gerais, que decorreram nos últimos dois dias no Quénia. Mwai Kibaki toma o lugar ocupado há 40 anos pelo partido KANU, de Daniel Arap Moi, e será investido Presidente nos próximos dias.

Mwai Kibaki, de 71 anos, é o próximo Presidente da República do Quénia, a tomar posse o mais tardar em 5 de Janeiro. Talvez mesmo já amanhã, segundo algumas fontes.

A Comissão Eleitoral confirmou hoje a vitória de Mwai Kibaki e da Coligação oposicionista Arco-Íris (NARC): “Ele ganhou, baseado em resultados provisórios”, disse à Reuters Mani Lemayian, porta-voz da Comissão Eleitoral. “De acordo com os resultados parciais que recebemos, Mwai Kibaki está muito à frente de Uhuru Kenyatta (candidato do partido KANU), porque já contámos os votos de mais de metade das 210 circunscrições do país e as que restam não podem inverter a tendência dos resultados”, disse à AFP o comissário Obuya Obuya, membro da Comissão Eleitoral.

A mesma fonte precisou que os votos permitem já aferir que a Coligação Arco-Íris tem já a maioria absoluta dos lugares no Parlamento.

Para um candidato ser considerado vencedor deverá ter não só o maior total nacional mas, também, pelo menos 25 por cento dos votos num mínimo de cinco das oito províncias do país, mas ao que tudo indica essas condições já terão sido cumpridas.

Que futuro para o Quénia?

Depois de 15 anos de governação de Jomo Kenyatta, pai de Uhuru, e de 24 de Daniel Arap Moi, abre-se a era de Kibaki, um dissidente do regime até agora em vigor.

Mwai Kibaki e o seu partido estão também à frente nas eleições legislativas, realizadas em simultâneo com as presidenciais, tal como as autárquicas. Em todos os escrutínios, a NARC assumia claramente a dianteira, levando os quenianos a sonhar com uma nova era.

No entanto, os cépticos não acreditam muito que o velho dissidente Kibaki e os seus comparsas tenham força suficiente para alterar grandemente o panorama nacional, marcado pela corrupção e pela má gestão. Já antes das eleições se sabia que os candidatos principais à chefia do Estado estiveram durante largo tempo - ou ainda estão - comprometidos com o sistema político em vigor, pelo que não se lhes reconhece grande capacidade para uma profunda e necessária mudança.

KANU e Daniel Arap Moi

A governação corrupta da KANU transformou uma das esperanças da África num país onde prolifera a pobreza, com grande parte da população a auferir menos do equivalente a um euro por dia.

Em 1971 os indicadores económicos do Quénia estavam sensivelmente na mesma linha dos de Singapura. E agora, segundo o Banco Mundial, o rendimento anual de um cidadão de Singapura eleva-se a 24.800 dólares, enquanto o de um queniano não ultrapassa os 350 dólares, tal como acontecia em 1963, quando foi proclamada a independência.

Conforme James Astill escrevia há dias no diário britânico "The Guardian", não muito longe da residência presidencial, em Nairobi, estende-se a perder de vista o aglomerado miserável de Kibera, onde 750 mil pessoas vegetam por entre amontoados de lixo e de excrementos.

O Presidente Moi costuma culpar os países ocidentais por tanta desgraça, mas a verdade é que a ajuda internacional ao Quénia foi congelada, há quatro anos, depois de se ter verificado que ia parar aos bolsos de uns quantos políticos, em vez de ser distribuída pela população em geral.

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