O café em perigo

Timor-Leste pode ter o melhor café do Mundo, mas também pode ver o seu único produto exportável desaparecer no período de dez anos. É preciso agir já, avisa quem entende do assunto. A decisão é aparentemente simples e a solução também não parece complicada. Revitalizam-se as plantações, impede-se a morte das árvores que lhes fazem sombra, ameaçadas por uma praga, ensinam-se novas técnicas de trabalhar o produto e mantém-se a produção biológica, apostando na qualidade. Agindo assim, mantém-se uma produção que emprega e dá de comer a quase 25 por cento da população timorense.


Economia em tons de negro no arranque de Timor-Leste independente

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Em Timor-Leste, quase três quartos da população estão ligados à agricultura Fernando Veludo/PÚBLICO

As previsões macro-económicas para Timor-Leste nos primeiros dois anos pós-independência são especialmente "negras", com uma contracção no crescimento económico que afectará praticamente todos os sectores, aumento do desemprego e sérias carências orçamentais.

As contas encontram-se num esboço do Plano de Desenvolvimento Nacional que será concluído nos próximos dias antes de ser formalmente apresentado aos países doadores, em Díli, em 14 e 15 de Maio.

O primeiro Plano de Desenvolvimento Nacional foi preparado conjuntamente pelo Governo e pela sociedade civil através de uma comissão criada para o efeito. O plano reconhece o impacte significativo da redução da presença internacional em Timor-Leste depois de 20 de Maio, com previsões de uma contracção no crescimento económico nos próximos dois anos (0,5 por cento este ano e 2,2 em 2003).

A primeira recuperação económica é esperada apenas em 2004, quando se espera um crescimento de 1,2 por cento, prevendo-se fortalecimentos de 3,3 em 2005 e, respectivamente, de 5,1 e 5,7 para os dois últimos anos do plano de desenvolvimento. Especialmente afectados a curto prazo serão os sectores que mais capital recebiam do estrangeiro, nomeadamente os transportes, comunicações, comércio, hotelaria, construção e arrendamento de imobiliário. Prevêem-se algumas melhorias nos sectores da agricultura, florestas, pesca e manufactura.

Pelo menos até à entrada das primeiras receitas significativas dos recursos petrolíferos do Timor Gap, em 2005, o novo Estado necessitará de um apoio directo anual de mais de 40 milhões de dólares para tapar o défice orçamental. A esse apoio acrescem cerca de 75 milhões de dólares por ano, durante os cinco anos da duração do plano, para "projectos bilaterais". As primeiras grandes receitas orçamentais só deverão começar a partir de 2005, com estimativas de que, nos últimos dois anos do plano, o Estado receberá 100 milhões de dólares anualmente provenientes das explorações em Timor Gap.

Particularmente difícil de combater será o desemprego, porque é necessário criar cerca de 40 mil empregos no sector privado nos próximos cinco anos para reduzir em metade o actual nível. A taxa de desemprego efectivo em Timor-Leste ronda actualmente os 16,8 por cento de uma força laboral estimada em cerca de 326 mil pessoas. Quase 74 por cento dos trabalhadores estão no sector agrícola, que, em Timor-Leste, é maioritariamente familiar e de subsistência.

O único número mais positivo é o da inflação, que deverá rondar dois a três por cento, com os salários da função pública a "crescerem a níveis abaixo" dos aumentos de preços.

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