Genoma de duas variedades de arroz descodificado

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Os cientistas ficaram surpreendidos com o facto de um pequeno bago ter mais genes que os seres humanos DR

Para mais de um terço da população mundial, o arroz é a principal fonte de calorias. Por isso, a descodificação do seu genoma pode ser um passo fundamental para lutar contra a fome no mundo.

Hoje, na revista "Science", duas equipas de cientistas anunciam ter sequenciado o genoma deste cereal. E descobriram que o pequeno bago pode revelar-se mais complexo do que pensavam, pois talvez tenha ainda mais genes que o genoma humano.

Há dois anos, a empresa de biotecnologia Monsanto anunciou a descodificação do livro da vida do arroz. Só no final deste ano é que o Projecto Internacional para a Sequência do Genoma do Arroz, com base nos trabalhos da Monsanto e das duas equipas que agora anunciam os seus resultados, irão publicar a sequência completa do genoma do cereal.

O conhecimento sobre o código genético dos importantes bagos pode "acelerar os esforços para conseguir uma melhor qualidade nutricional e um aumento na produtividade das culturas", disse Donald Kennedy, director da "Science", citado pela agência Reuters. Este responsável classificou a publicação dos trabalhos das duas equipas como a mais importante "dos últimos anos", mais importante até que o genoma humano.

Os investigadores envolvidos concordam, afirmando que conhecer o mapa de todos os genes do arroz terá um impacto mais imediato sobre a humanidade que o conhecimento do genoma humano. Tudo porque é o cereal mais importante na alimentação de muitos milhões de pessoas e o conhecimento do seu código genético é meio caminho andado para a descodificação de outros cereais mais complexos, como o trigo ou o milho.

Esta informação poderá permitir às instituições de investigação desenvolver tipos de arroz melhorados, tanto através da biotecnologia como dos métodos tradicionais de melhoria das culturas, de forma a conseguir dotar este cereal de maior valor nutricional, maior produtividade e melhor adaptação às estações, climas e solos. O objectivo é que as novas variedades desenvolvidas necessitem de menos recursos naturais.

«Indica» e «japonica»

A descodificação da variedade "indica" do arroz (da espécie "Oriza sativa") foi levada a cabo por uma equipa liderada por Jun Yu, do Instituto do Genoma de Pequim, e pelo Centro do Genoma da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Envolveu ainda 11 instituições chinesas. Esta é uma variedade muito comum nos climas tropicais asiáticos.

O genoma da variedade "japonica", também da espécie "Oriza sativa" e que cresce em climas mais temperados, foi sequenciado por uma equipa de investigadores da empresa suíça de químicos Syngenta, liderada por Stephen Goff.

O mapa genético da "indica" contém 466 milhões de pares de bases - as quatro unidades constituintes da molécula de ADN que se encadeiam ao longo dela -, o que significa que é 6,7 vezes menor que o genoma humano. No entanto, tem 45 mil a 56 mil genes, em que cada um desses genes tem em média 4500 pares de bases. O ser humano tem entre 30 a 40 mil genes, só que cada gene terá em média 72 mil pares de bases.

A segunda equipa conseguiu sequenciar 389 milhões dos 420 milhões de pares de bases que se pensam existir na "japonica". Programas de computador indicam que o genoma desta variedade deve ter entre 42 mil e 63 mil genes. Não foi estudado o tamanho de cada gene.

O menor número de genes dos seres humanos perturbou os cientistas. Segundo Steve Briggs, da Syngenta, citado pela Reuters, uma explicação possível para esta situação é que as plantas devem usar os seus genes de uma forma menos eficiente que os animais. Apesar do número relativamente pequeno de genes, os seres humanos recombinam e usam as proteínas fabricadas pelos genes de muitas formas criativas. As células humanas criam e usam até 100 mil proteínas diferentes.

A sequenciação da "indica" estará disponível ao público através do "site" da GenBak (http://www2.ncbi.nlm.nih.gov/Genbank/GenbankSearch.html ). Os resultados da Syngenta terão acesso limitado e poderão ser consultados no endereço http://www.syngenta.com

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