Chile espiou para britânicos durante guerra das Malvinas com autorização de Pinochet

O ex-ditador chileno, Augusto Pinochet, autorizou as manobras de espionagem solicitadas pelas autoridades britânicas durante a guerra das Malvinas, em 1982, em troca de aviões e armamento. O ex-chefe da Força Aérea do Chile Fernando Matthei veio a público dar detalhes sobre a colaboração chilena na guerra que opunha o Reino Unido à Argentina.

Até agora essa colaboração entre o Chile e o Reino Unido já havia sido confirmada, ainda que sem detalhes, pela ex-primeira-ministra Margaret Tatcher quando, em 1999, revelou essa informação para defender Pinochet durante a sua detenção em território britânico.

Numa reportagem que data de 1999 mas que foi publicada ontem no diário andino "La Tercera", Matthei afirmava que, dois dias depois do início do conflito bélico, em Abril de 1982, o comandante de esquadrilha da Força Aérea britânica Sidney Edwards lhe pediu durante uma reunião para que o ajudasse com "informações secretas".

O militar britânico, que tempos depois se viu envolvido em casos de tráfico de armas, apresentou-se com uma carta do então comandante dessa força David Great e alegou ter "plenos poderes para negociar".

Matthei indicou que nesse momento decidiu consultar Pinochet "em termos muito gerais" acerca da proposta. O antigo ditador "esteve de acordo" em prestar ajuda aos britânicos "desde que não se soubesse", nem sequer no Ministério chileno dos Assuntos Exteriores.

Em troca, o Governo britânico daria ao Chile aviões Hawker Hunters, um radar de longa distância, mísseis antiaéreos, aviões Camberra de reconhecimento fotogramétrico de grande altura e também bombardeiros.

Com um avião Moondrop, o primeiro envio que fizeram os britânicos, os militares chilenos participaram então num "reconhecimento completo" realizado do seu lado da cordilheira dos Andes, tendo captado sinais do lado argentino.

Matthei afirmou ainda que nunca contou nada a Pinochet sobre os pormenores das operações realizadas. "Decidi não lhe contar por uma única razão: 'se a história rebentasse', queria que Pinochet estivesse em condições de jurar que não sabia nada".

O militar acrescentou ainda que a colaboração "se prolongou durante toda a guerra". "Nós ficámos com o avião, com os radares e com os mísseis. Eles receberam a tempo a informação e todos ficámos satisfeitos", concluiu.

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