Comissão técnica critica "amadorismo" na recolha de informação

João Guerreiro, presidente da comissão técnica independente, disse desconhecer o conteúdo da auditoria interna, mas salienta que a sua comissão já tinha identificado procedimentos que deviam ser "corrigidos".

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Adriano Miranda

A comissão técnica independente de análise aos incêndios considerou esta quarta-feira que as conclusões da auditoria interna da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) ao fogo de Pedrógão Grande revelam "um procedimento de muito amadorismo" na recolha de informação.

"Tudo isto nos surpreende, porque traduz um procedimento de muito amadorismo" na recolha de informação, afirmou o presidente da comissão técnica independente, João Guerreiro, à entrada de uma audição parlamentar. "Não pode acontecer."

Apesar de ter conhecimento sobre a auditoria interna da ANPC aos trabalhos de combate aos incêndios de Pedrógrão Grande, pedida pela então ministra da Administração Interna, o presidente da comissão afirmou desconhecer o conteúdo do relatório. Confrontado com os dados revelados pelo PÚBLICO, esta quarta-feira, que davam conta de documentos "apagados" ou "desaparecidos" durante o combate aos incêndios de Pedrógrão, João Guerreiro lembrou que o relatório da comissão técnica independente também evocou "alguns procedimentos" que deviam ser "corrigidos", nomeadamente a suspensão da fita do tempo, que nunca devia acontecer. 

A fita do tempo, diz o presidente da comissão técnica independente, foi "suspensa em determinados momentos nos incêndios de Pedrógão" e "retomada umas horas depois". O objectivo desta ferramenta é reflectir "exactamente aquilo que se passa" e por isso não pode ser suspensa e retomada indefenidamente. Em consequência, a informação sobre o que aconteceu durante esses períodos de tempo não é conhecida.

Quanto aos documentos "apagados", João Guerreiro diz não ter tido conhecimento sobre quaisquer documentos desaparecidos. No entanto, salienta, à semelhança do que já tinha feito a sua comissão técnica, que durante os incêndios de Junho e Outubro grassou a "ausência de profissionalismo em muitos dos procedimentos que são seguidos hoje em dia", sobretudo por parte dos bombeiros e da ANPC.

O PÚBLICO deu a conhecer, esta quarta-feira, que houve documentos relativos aos incêndios de Pedrógão Grande que foram "apagados" ou "destruídos". As conclusões são do relatório da auditoria feira pela Direcção Nacional de Auditoria e Fiscalização da ANPC. Durante o combate aos incêndios houve "falhas graves" sendo que os auditores se depararam com a inexistência de provas documentais sobre o trabalho de combate ao fogo, que podem ser decisivas numa avaliação posterior, nomeadamente ao nível da responsabilidade disciplinar e criminal. 

Em Junho de 2017, os incêndios que deflagraram na zona de Pedrógão Grande provocaram 66 mortos: a contabilização oficial assinalou 64 vítimas mortais, mas houve ainda registo de uma mulher que morreu atropelada ao fugir das chamas e uma outra que estava internada desde então, em Coimbra, e que acabou também por morrer. Houve ainda mais de 250 feridos.

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