Deputados receiam que jovem adoptada pela IURD esteja em perigo

Parlamento decidiu enviar ao Ministério Público as informações que lhe foram transmitidas sobre a jovem. IURD informa que esta se encontra "muito bem" e que já foi ouvida.

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Garcia Pereira representa a mãe de três jovens adoptados Rui Gaudêncio

A mãe biológica de uma das crianças que, no final dos anos 1990, terá sido adoptada por responsáveis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), comunicou ao Parlamento o seu receio de que ela “esteja  em perigo” por lhe terem perdido o rasto, o que aconteceu, segundo disse, depois de a jovem, na casa dos 20 anos, ter viajado para Portugal.   

Esta foi uma das situações que na terça-feira foram relatadas por “Maria”, o nome fictício adoptado por esta mãe, à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, confirmou ao PÚBLICO o advogado Garcia Pereira, que esteve presente na audição. “Foi expressa pela mãe [de que é um dos mandatários] a preocupação de que, estando a filha em Portugal, possa estar a ser limitada na sua liberdade de movimentos e que eventualmente esteja a ser coagida”, indicou.

Na sequência desta audição, que decorreu à porta fechada para proteger a identidade de “Maria”, a comissão parlamentar decidiu enviar ao Ministério Público (MP) as informações que lhe foram transmitidas. A deputada do PSD Teresa Morais, que é a relatora deste caso, justificou a decisão por terem sido relatados “factos graves, ocorridos recentemente, que eventualmente terão relevância criminal e que, por isso, devem ser transmitidos ao Ministério Público”. A deputada escusou-se a adiantar que factos são esses.

Em resposta ao PÚBLICO, fonte oficial da IURD informou que, tanto quanto lhes “é possível saber pela própria, a Vera [nome pela qual é conhecida a jovem em causa] encontra-se muito bem”. Adiantou que ela “já foi, inclusive, ouvida pelo MP em Fevereiro, onde teve oportunidade de responder a todas as questões que lhe foram colocadas”, mas que é seu “desejo estar em paz na sua vida pessoal e social, tanto quanto possível”.

A Procuradoria-Geral da República já confirmou que têm estado a ser inquiridas testemunhas no âmbito do inquérito ao caso das alegadas adopções ilegais por parte da IURD relatado pela TVI em Dezembro.

Ana Piedade, primeira subscritora da petição pública “Não Adopto Este Silêncio”, em que se exige a abertura de um inquérito parlamentar a este caso — e que foi subscrita por mais de cinco mil pessoas, entre as quais Garcia Pereira —, também esteve presente na sessão. Segundo ela, a mãe de Vera informou os deputados de que a família perdeu o rasto à jovem desde que esta chegou a Portugal, o que terá acontecido já depois de a investigação da TVI ter sido transmitida. Após a transmissão do 1.º episódio, a irmã mais nova de Vera falava com ela via Facebook. “Ela acabou por dizer à irmã que foi vítima de maus tratos e que queria contestar a adopção, mas que até então não tinha tido ninguém a quem recorrer. Também manifestou vontade de conhecer a mãe biológica”, relata Ana Piedade, adiantando que esta terá sido a última mensagem que a família recebeu de Vera. A família diz ter provas de que Vera continua no país, mas deixou de conseguir ter qualquer contacto com ela.

Num vídeo colocado no site da IURD a 11 de Dezembro, Vera e o seu irmão Luís contestaram as informações transmitidas pela TVI, garantindo que viveram até aos 20 anos nos EUA com uma família que sempre os tratou bem e que os ama.

Num vídeo colocado no site da IURD a 11 de Dezembro, Vera em conjunto com o seu irmão Luís contestaram as informações transmitidas pela TVI, garantindo que viveram até aos 20 anos nos EUA como uma família que sempre os tratou bem e que os ama.  

Na investigação da TVI esta jovem foi apresentada como sendo neta do líder máximo da IURD, Edir Macedo. Ainda segundo a mesma estação televisiva, ela em conjunto com os dois irmãos terão sido retirados à mãe biológica pela Segurança Social e entregues por esta entidade a um lar da IURD, para depois serem adoptados.

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