Filósofo suíço Tariq Ramadan acusado de violação

O académico muçulmano ainda não se pronunciou, mas foi aberta uma investigação ao caso no início desta semana.

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O escritor Tariq Ramadan é acusado por duas mulheres de agressão e de violação Mike Segar/REUTERS

Depois das recentes acusações a Harvey Weinstein por assédio sexual, nos Estados Unidos, um caso similar surge agora em França: o pensador muçulmano Tariq Ramadan é acusado de agressão e violação por duas francesas, que alegam que Ramadan as convenceu, em alturas distintas, a ir para um quarto de hotel para conversar e as violou.

Segundo os media franceses, os episódios relatados aconteceram em 2009 e em 2012. O professor da Universidade de Oxford apresentou uma queixa por difamação num tribunal de Paris mas ainda não se pronunciou publicamente sobre as acusações de que é alvo.

A primeira acusação foi feita na sexta-feira passada por Henda Ayari, uma mulher de 40 anos, presidente da Libératrices (uma associação de apoio a mulheres com dificuldades), referente a um episódio de 2012. Nesta quinta-feira, uma outra mulher na casa dos 40 anos (o Le Monde diz que tem 45 e o Le Parisien diz que terá 42 anos) acusando-o de violação e de a ter agredido com violência no ano de 2009. E conta a sua história.

Preferindo manter o anonimato, a francesa convertida ao Islão contou à imprensa que trocava correspondência com Tariq Ramadan, em busca de conselhos sobre a religião, e acabaram por se encontrar presencialmente no bar de um hotel na cidade de Lyon. Segundo o relato da vítima, passados dez minutos de se terem encontrado, o filósofo disse que seria melhor conversarem no seu quarto, já que sentia que estava a ser observado. Foi aí que a agressão aconteceu, conta.

Como tinha um problema na perna direita, a mulher usava uma tala e andava com o apoio de muletas. “Ele deu-me um pontapé nas muletas e atirou-se para cima de mim e disse: ‘Tu fizeste-me esperar, vais pagar caro’”, contou, citada pelo Le Monde, afirmando ainda que ele lhe ia dando golpes na cara, nos braços, na barriga e no peito.

Num cenário de grande violência, a mulher conta que foi obrigada a fazer sexo oral e anal enquanto o homem a ia atacando, puxando-lhe o cabelo e penetrando-a com objectos; ela gritava de dor. Além do seu testemunho, a vítima diz ter atestados médicos feitos na altura dos acontecimentos que provam a existência de lesões por todo o corpo.

Depois desse dia, a mulher conta que foi intimidada e ameaçada durante meses pelo académico de estudos islâmicos, de 55 anos, um dos mais conhecidos da Europa: recebia mensagens da parte dele e conta que também havia homens que a seguiam na rua, tendo sido ameaçada de morte por um deles.

“Envolto numa aura religiosa”

Alguns anos depois, na Primavera de 2012, terá havido outra violação. Desta vez quem conta a história é Henda Ayari, de 40 anos. O seu relato tem algumas semelhanças com o anterior: Ayari tinha estabelecido contacto com o professor para ter alguns conselhos sobre a religião de que fazia parte e o encontro também aconteceu num hotel, desta vez em Paris. Queixando-se de que o hall do hotel estava muito cheio e barulhento, o professor propôs-lhe que fossem para a sua suite; aí, “saltou” para cima dela, agrediu-a e violou-a e depois ofereceu-lhe dinheiro para apanhar um táxi. Depois disso, também foi ameaçada por ele.

“É uma decisão muito difícil, mas eu também decidi que é tempo de denunciar o meu agressor. É Tariq Ramadan”, escreveu Henda Ayari na semana passada no Twitter, anunciando a sua decisão de apresentar queixa depois de já ter contado o episódio anteriormente, num livro seu, em que ocultava a identidade do agressor.

No Facebook, Ayari diz ter noção dos riscos que corre ao denunciar Ramadan e acredita que vai atravessar uma “grande tempestade”. A decisão é sobretudo difícil, diz, quando o agressor “está envolto numa aura religiosa como Tariq Ramadan, que é adulado, idolatrado, por muitos”. Antes das queixas destas duas mulheres, havia algumas suspeitas de casos de agressão sexual relacionada com o filósofo suíço, mas nunca tinham avançado para tribunal.

Depois da primeira queixa de violação, Tariq Ramadan apresentou uma queixa por estar a ser alvo de difamação e o seu advogado, Yassine Bouzrou, recusou fazer quaisquer comentários – assim como o académico suíço. No início da semana, foi aberta uma investigação ao caso. 

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