Japão estuda orçamento recorde para a defesa

Foi apresentada uma proposta de 135 milhões de euros para o desenvolvimento de mísseis e armamento ofensivo, desafiando a Constituição pacifista do país.

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Exercício conjunto entre bombardeiros norte-americanos e caças japoneses Reuters/HANDOUT

O Ministério da Defesa japonês fez um pedido orçamental recorde de 160 milhões de dólares (135 milhões de euros) para desenvolver mísseis eficazes de alcance superior, para aumentar a sua projecção militar no Leste Asiático, responder à força crescente da China e à cada vez maior ameaça norte-coreana.

Se for aprovada, a proposta para uma subida de 2,5% nos gastos com a defesa para 5,26 biliões de ienes (40,5 mil milhões de euros) para o ano que começa a 1 de Abril seria a sexta subida anual consecutiva.

O financiamento irá assegurar o pagamento das melhorias nos sistemas de defesa anti-míssil, seis caças F-35, quatro aeronaves de transporte V-22 Osprey, para além de encomendas de novas embarcações, incluindo um submarino e dois navios de guerra.

Cerca de 75 milhões de euros do total de 135 milhões requeridos para o desenvolvimento de mísseis serão canalizados para o estudo de mísseis hipersónicos [velocidade cinco vezes superior à do som] para uma penetração mais rápida das defesas inimigas.

O resto irá financiar a investigação para aumentar o alcance dos mísseis, uma tecnologia que poderá ser potencialmente utilizada para apoiar o desenvolvimento de armas ofensivas.

A Força Aérea da Coreia do Sul realizou um exercício com dois bombardeiros com capacidade nuclear norte-americanos sobre a Península Coreana na quinta-feira, dois dias depois de um lançamento de um míssil norte-coreano sobre o Japão ter aumentado a tensão.

“A investigação e desenvolvimento servem para a defesa das ilhas”, disse um responsável do Ministério da Defesa, referindo-se à cadeia de ilhas de Okinawa, no sudoeste, no Mar do Leste da China, onde o Japão está envolvido numa disputa territorial com a China.

Desafio ao pacifismo

O financiamento para o desenvolvimento de mísseis, apesar de relativamente reduzido, poderá, no entanto, causar controvérsia, uma vez que a Constituição pacifista japonesa impõe restrições quanto ao fornecimento de armamento ofensivo aos militares.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, disse que o Japão tem exagerado quanto à chamada “ameaça chinesa” para aumentar os seus gastos com a defesa, e apelou a que aprenda com as lições da história e tome em consideração as preocupações com segurança dos seus vizinhos.

“Independentemente de quais sejam as suas razões, os gastos do Japão com a defesa têm aumentado todos os anos e chegaram a um novo pico histórico. Manifestamos a nossa preocupação”, disse Hua durante uma conferência de imprensa.

Alguns deputados do Partido Liberal Democrático (LDP, no poder) defendem que o Japão precisa de armas com capacidade para destruir os locais de lançamento de mísseis norte-coreanos, de forma a impedir ataques de Pyongyang.

Os mísseis com alcance mais extenso no arsenal japonês, que incluem munições anti-aéreas e anti-navais, conseguem atingir menos de 300 quilómetros.

Um grupo de deputados do LDP que recomendou a aquisição de armamento ofensivo foi liderado pelo ministro da Defesa, Itsunori Onodera, antes de ter tomado posse em Agosto.

Mas um mudança como a proposta na estratégia militar japonesa iria enfrentar uma oposição férrea dos críticos que dizem que as políticas agressivas do primeiro-ministro, Shinzo Abe, foram demasiado longe, danificando a sua já baixa popularidade.

“Atacar as bases inimigas após um ataque, para impedir novos lançamentos, seria a decisão natural, mas seria difícil para as pessoas no Japão aceitarem isso à luz da Constituição actual”, disse um deputado do LDP, que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar com a comunicação social.

A proposta orçamental para a defesa irá enfrentar o escrutínio dos responsáveis do Ministério das Finanças, que podem tentar controlar os gastos militares numa altura em que tentam cumprir as exigências de mais despesa com a saúde e o bem-estar da população envelhecida do país.

 

 

 

 

 

 

 

 

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