A "geringonça" portuguesa é como a luxemburguesa: “Ça marche bien

O presidente luso e o primeiro-ministro luxemburguês têm tanto em comum como os dois países. “Paixão”, resumiu Marcelo. Xavier concorda. Juntos, riram e brincaram no castelo de Bourglinster.

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Empatia entre Marcelo e Xavier Bettel é evidente LUSA/JOÃO RELVAS
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Chefe de Estado viu a escultura Coração Independente<(i>, de Joana Vasconcelos, na catedral LUSA/JOÃO RELVAS
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Chefe de Estado viu a escultura Coração Independente<(i>, de Joana Vasconcelos, na catedral LUSA/JOÃO RELVAS
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Presidente assistiu ao recenseamento de emigrantes portugueses, que corresponderam ao seu apelo da véspera LUSA/JOÃO RELVAS

Se Portugal e o Luxemburgo já eram “irmãos gémeos”, como tem dito o Presidente da República na visita a este país, o encontro que o chefe de Estado luso e o primeiro-ministro luxemburguês tiveram esta quarta-feira mostrou como os dois políticos têm também almas gémeas. E os governos improváveis dos dois países, com três partidos a suportar cada um, mostra como são semelhantes nas suas diferenças.

Xavier Bettel ofereceu a Marcelo Rebelo de Sousa um almoço no castelo de Bourglinster, datado do século XI, que com os seus torreões redondos com cobertura em cone, encrustado em colinas verdes, remete para o imaginário dos livros infantis. A boa disposição e empatia entre as duas figuras de Estado eram visíveis desde que chegaram, e mantiveram-se até à conferência de imprensa conjunta, em que se identificaram mutuamente pela energia que resumiram numa palavra: “Paixão”.

Foi Marcelo quem deu o mote: “Com a sua hiperactividade, que me esmaga, encontrei alguém que me ultrapassa”, começou por dizer. Ambos falaram da visão comum sobre a Europa, como “a vontade de construir algo em comum”, nas palavras de Bettel; na grande integração dos portugueses no Luxemburgo que os torna parte “da mesma família” e nos elogios ao povo português pelos esforços no controlo das contas públicas que permitirá sair do Procedimento por Défice Excessivo.

“Escrevi ao primeiro-ministro português a agradecer ter enviado o Presidente da República para podermos partilhar estas boas notícias”, brincou Bettel, já depois de ter elogiado os portugueses pelos sacrifícios para pôr “as contas em ordem”. “É bom ter regras e cumpri-las, mas é preciso investir no futuro”, afirmou o liberal.

Marcelo aproveitou a deixa: “A tecnocracia não mobiliza ninguém, é preciso paixão, é isso que nós [os dois] temos em comum”, resumiu. “Acho que nos encontramos em termos de energia, entusiasmo e paixão, encontramos uma via para um futuro comum, criou-se uma empatia: ambos trabalhamos em prol das pessoas”, acrescentou Xavier.

Tinha sido com a mesma energia e boa disposição que os dois tinham pregado uma partida ao ministro da Justiça. Félix Braz é lusodescente e falava aos jornalistas quando as comitivas e o resto do Governo luxemburguês já estavam dentro do castelo. Explicava que, hoje, a língua luxemburguesa já não era um entrave para quem quer obter a nacionalidade, inclusive para os portugueses.

"Segundo a nova lei há acesso para todos, pode é demorar mais ou menos tempo, para uns cinco ou sete anos, para outros até 20 anos. Qualquer residente do Luxemburgo, mesmo se não falar luxemburguês, tem hipótese de acesso à nacionalidade sem exames, sem testes", dizia.

Nessa altura, já Marcelo e Xavier tinham aparecido à janela, de frente para as câmaras e nas costas do ministro, começando a chamá-lo. “Não fales tanto”, dizia um. “Vais perder o almoço”, dizia o outro. Félix Braz resistia a rir-se, continuando a sua prédica em português.

Perguntaram-lhe o que achava do facto de os dois países terem em comum uma “geringonça”, já que o Governo luxemburguês é uma coligação dos liberais, socialistas e verdes. Mas Xavier e Marcelo continuavam a chamá-lo e a fazê-lo rir, até que Braz se virou e disse que estava a explicar como funciona a “geringonça luxemburguesa”. Bettel disparou: “C’est simple. Ça marche bien [é simples, funciona bem]”. Riram-se e foram todos almoçar.

O dia ia a meio para o Presidente português. Já tinha acompanhado o recenseamento de três portugueses que responderam ao seu apelo da véspera, já tinha visitado a Sociedade Europeia de Satélites, onde trabalham 14 quadros médios e superiores portugueses, e o EBRC Data Center em Betzdorf, onde estão alojadas importantes clouds.

Depois visitou a Cité de Sciences e a Maison du Savoir, onde assistiu à celebração de um protocolo entre as universidade do Luxemburgo e do Porto e improvisou uma sessão de perguntas e respostas com jovens universitários portugueses – são cerca de 500, e várias dezenas vieram só para o ver. Visitou o Museu Nacional de História e da Arte, foi ver o Coração Independente da Joana Vasconcelos instalado na catedral, passou pela casa Robert Schuman, um dos fundadores da União Europeia e terminou o programa oficial desta visita na Philarmonie, a maior sala de espectáculos do país, numa recepção com individualidades portuguesas e luxemburguesas ao som da Orquestra Barroca da Casa da Música.

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