Trump pede aos muçulmanos que liderem luta contra o terrorismo

Em Riad, o Presidente dos EUA deixou apelos ao isolamento do Irão e apoiou a guerra saudita no Iémen. “Valores ideológicos inflexíveis” não serão entrave a parcerias com aliados.

Foto
Donald Trump ao lado do rei Salman, da Arábia Saudita, e da primeira-dama, Melania SAUDI PRESS AGENCY/EPA

O Presidente dos EUA, Donald Trump, definiu este domingo, num discurso em Riad, a sua visão para o papel norte-americano no Médio Oriente. A prioridade é a derrota dos grupos terroristas que actuam na região. Para isso, disse Trump, os Estados Unidos não vão estar constrangidos por “valores ideológicos inflexíveis”. O Irão, “regime responsável por tanta instabilidade na região”, é o alvo a abater. Este era o discurso que a Arábia Saudita há muito ansiava.

Perante uma audiência composta por 55 líderes de países árabes, o discurso do Presidente que, logo no início do seu mandato, assinou um decreto que proibia a entrada de cidadãos de sete países muçulmanos era ansiosamente aguardado. Sabendo para quem falava, Trump reconheceu que “os países do Médio Oriente são os que mais sofreram com a violência do terrorismo”.

O Presidente norte-americano também deixou de lado a expressão “terrorismo islâmico radical” – que muito usou durante a campanha eleitoral –, substituindo-a por “extremismo islamista”.

Mas se, por um lado, Trump afastou a tese do “choque de civilizações”, por outro, enquadrou a luta contra o terrorismo como um combate “entre o bem e o mal”. “Esta não é uma batalha entre diferentes religiões ou diferentes seitas, é uma batalha entre criminosos bárbaros que pretendem acabar com a vida humana, e os povos decentes de todas as religiões que a querem proteger”, declarou o líder norte-americano.

A prioridade em termos de política para o Médio Oriente é a luta contra o terrorismo, cuja manifestação é expressa em grupos que Trump enumerou: Daesh, al-Qaeda, Hezbollah e Hamas. Para os derrotar, Trump garantiu o apoio dos EUA aos seus aliados regionais. Mas são os próprios países que devem tomar a dianteira neste combate. “As nações do Médio Oriente não podem esperar que o poder americano esmague este inimigo por eles”, avisou o Presidente norte-americano, numa mensagem de tom semelhante à que tem enviado aos aliados da NATO, a quem pede maior responsabilidade pela sua própria defesa.

O papel que cabe aos países árabes é o de “afastar os terroristas e extremistas”. “Afastem-nos dos vossos locais de oração; afastem-nos das vossas comunidades; afastem-nos da vossa terra sagrada”, apelou o Presidente dos EUA.

Trump promete abandonar “estratégias que não resultaram” para combater o terrorismo. Nada irá travar este combate, garante o líder norte-americano. “Iremos tomar decisões baseadas em cenários reais, não em nome de valores ideológicos inflexíveis”, declarou. Não é à toa que Trump em nenhum momento do discurso mencionou a defesa dos direitos humanos ou os valores democráticos – sabendo que era recebido pelo líder de um regime que não hesita recorrer à pena de morte para esmagar a mínima oposição ou onde os direitos das mulheres são dos mais limitados em todo o mundo. “Não estamos aqui para dar lições”, afirmou Trump.

Isolar o Irão

O Irão foi descrito por Trump como um “regime que alimenta o caos e a destruição” no Médio Oriente, a quem responsabilizou pela guerra na Síria. “Apoiado pelo Irão, [o Presidente sírio, Bashar al] Assad cometeu crimes indescritíveis”, afirmou, sem qualquer referência à Rússia, que também apoia militarmente o regime sírio.

Trump deixou um apelo directo a favor do isolamento do Irão. “Até que o regime iraniano esteja disposto a ser um parceiro para a paz, todas as nações de consciência devem trabalhar em conjunto para isolar o Irão”.

A referência ao Irão nestes moldes representa uma profunda demarcação em relação à política do anterior Presidente, Barack Obama, que procurou encontrar pontos de entendimento com Teerão, tendo em vista um acordo diplomático para travar o programa nuclear iraniano.

É conhecida a oposição de Trump aos termos em que o acordo foi assinado – “o pior acordo na história dos EUA”, como chegou a descrevê-lo. Mas ao apresentar o Irão desta forma está a enviar um forte sinal de apoio na direcção de Riad. O reino saudita e o Irão estão envolvidos num confronto velado pela hegemonia regional, que tem repercussões em vários países do Médio Oriente.

Para além da Síria, o principal palco desta “guerra por procuração” é o Iémen, onde desde Março de 2015 a Arábia Saudita lidera uma coligação de países do Golfo Pérsico que têm bombardeado as posições dos militantes houthis, que, meses antes, tinham ocupado a capital e tomado o poder. Riad diz que os houthis são apoiados e treinados pelo Irão, que pretende instalar um regime aliado no Iémen.

Quando enumerou vários locais onde os países árabes têm combatido o terrorismo, Trump incluiu o Iémen, onde “a Arábia Saudita e uma coligação regional têm tomado fortes acções contra os militantes houthis”. Washington dá, desta forma, um forte apoio à guerra que os sauditas têm travado no Iémen – que, segundo a ONU, já matou mais de dez mil civis.

Sugerir correcção
Ler 26 comentários